O aquecimento global ameaça nossos satélites em órbita, eis o porquê 🛰️

Publicado por Cédric,
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Nature Sustainability
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A mudança climática, frequentemente associada aos seus efeitos na Terra, pode também impactar o espaço próximo ao nosso planeta. Um estudo recente revela que as emissões de gases de efeito estufa podem reduzir significativamente a capacidade de hospedagem de satélites em órbita baixa até o final do século.


Pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) descobriram que o aumento dos gases de efeito estufa resfria e contrai a termosfera, a camada atmosférica onde a maioria dos satélites opera. Essa contração reduz a densidade da atmosfera, diminuindo assim o fenômeno de "arrasto atmosférico" que ajuda a eliminar detritos espaciais. De fato, o arrasto atmosférico age como uma força de fricção, desacelerando objetos em órbita e fazendo com que desçam gradualmente até queimarem nas camadas mais densas da atmosfera.

Um efeito dominó no espaço


A termosfera, localizada entre 85 e 600 quilômetros de altitude, desempenha um papel importante na gestão de detritos espaciais. O arrasto atmosférico que ela gera permite desacelerar objetos em órbita, fazendo com que desçam e queimem na atmosfera. No entanto, com a contração dessa camada, os detritos permanecem em órbita por mais tempo, aumentando os riscos de colisões.

Essa redução do arrasto atmosférico tem consequências diretas sobre a longevidade dos detritos espaciais. Normalmente, objetos em órbita baixa perdem altitude gradualmente e acabam se desintegrando. Mas, com uma atmosfera menos densa, esse processo desacelera, deixando os detritos flutuando por décadas ou até séculos.


a) Redução potencial da densidade da termosfera em órbita baixa segundo o cenário SSP1–2.6.
b) Redução segundo o cenário SSP2–4.5.
c) Redução segundo o cenário SSP5–8.5.
d) Densidade da termosfera a 600 km, incluindo uma projeção do ciclo solar e a redução secular de densidade relacionada aos SSP.

As simulações dos pesquisadores mostram que, em um cenário de altas emissões, a capacidade de hospedagem de satélites em órbita baixa pode diminuir de 50 a 66% até 2100. Aplicando a projeção em uma faixa de 400 a 1000 km de altitude, essa redução pode chegar a 82%. Essa diminuição pode levar a uma instabilidade crescente, com risco de colisões em cascata, tornando algumas zonas orbitais inutilizáveis.

Uma situação como essa ameaçaria serviços essenciais fornecidos por satélites, como comunicações e monitoramento climático.

Um crescimento descontrolado de satélites


O número de satélites em órbita baixa explodiu nos últimos anos, especialmente com o lançamento de constelações para fornecer internet. Em 2023, mais de 10.000 satélites estavam em operação, e esse número continua crescendo. Esse crescimento rápido, combinado com a redução da capacidade orbital, representa um grande desafio para a gestão sustentável do espaço.

Projetos de mega-constelações, como Starlink ou OneWeb, planejam lançar milhares de satélites adicionais nos próximos anos. Essas iniciativas, embora úteis para melhorar a conectividade global, podem agravar a saturação da órbita baixa. Sem uma regulamentação rigorosa, a densidade de objetos em órbita pode atingir um ponto crítico, aumentando os riscos de colisões a ponto de tornar a termosfera inexplorável (cenário conhecido como "Síndrome de Kessler").

Os pesquisadores destacam a urgência de tomar medidas para limitar as emissões de gases de efeito estufa e regular melhor o número de satélites lançados. Sem uma ação coordenada, a órbita baixa pode ficar excessivamente congestionada, comprometendo serviços essenciais fornecidos por esses satélites, como comunicações e monitoramento climático. Uma gestão proativa é necessária para evitar uma instabilidade orbital irreversível.

Para saber mais: O que é a síndrome de Kessler?


A síndrome de Kessler descreve um cenário em que colisões entre objetos em órbita geram tantos detritos que o espaço se torna progressivamente inutilizável. Cada colisão cria novos fragmentos, aumentando exponencialmente o risco de colisões futuras. Esse fenômeno pode tornar algumas órbitas inacessíveis por décadas.

Esse cenário foi popularizado por Donald J. Kessler, um cientista da NASA, na década de 1970. Ele destaca o risco de uma reação em cadeia em que os detritos espaciais, ao se multiplicarem, tornariam a órbita terrestre perigosamente inutilizável para satélites operacionais. Uma situação como essa ameaçaria serviços essenciais como comunicações, navegação e observação da Terra.

Hoje, com o rápido aumento do número de satélites e a redução do arrasto atmosférico devido à mudança climática, o risco da síndrome de Kessler se torna mais preocupante. Cientistas pedem por uma regulamentação internacional e tecnologias de limpeza espacial para prevenir essa catástrofe potencial.
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