Embora os ratos e os camundongos pertençam à mesma família de roedores, eles estão separados por cerca de 20 milhões de anos na escala evolutiva. Apesar dessa divergência, pesquisadores conseguiram um feito notável ao criar camundongos com cérebros híbridos contendo neurônios de ratos, permitindo assim que percebessem odores da mesma forma que os ratos.
Esse avanço destaca a flexibilidade notável do cérebro para integrar e utilizar células de diferentes espécies, abrindo possivelmente caminho para abordagens revolucionárias em interfaces homem-máquina e terapias de transplantação celular.
Sob a liderança de Kristin Baldwin da
Universidade Columbia, a equipe de pesquisadores introduziu células-tronco de ratos em blastocistos de camundongos, um estágio precoce do desenvolvimento que ocorre apenas algumas horas após a fertilização. Esta técnica, conhecida como complementação de blastocisto, é semelhante à usada para criar camundongos com sistemas imunológicos humanos, provando ser ferramentas de pesquisa eficazes. Até este estudo, no entanto, essa técnica não tinha sido bem-sucedida na criação de cérebros híbridos de duas espécies diferentes.
Nas suas primeiras experiências híbridas, os pesquisadores examinaram a localização dos neurônios de rato no cérebro do camundongo. Os resultados mostraram que as células de rato se desenvolviam e estabeleciam conexões de maneira semelhante às dos camundongos, demonstrando assim a possibilidade de integração funcional dos neurônios de rato. Essa integração provou ser particularmente eficaz no sistema olfativo, útil para os camundongos na busca de alimento e na evasão de predadores.
Ao testar a sensibilidade olfativa desses camundongos híbridos ao esconder cookies em suas gaiolas, os pesquisadores observaram, com surpresa, que os camundongos podiam encontrá-los graças aos neurônios de rato. Contudo, alguns camundongos mostraram-se mais habilidosos que outros, destacando a complexidade da substituição neuronal e a necessidade de estratégias direcionadas para eliminar neurônios disfuncionais em distúrbios neurodegenerativos e neurodesenvolvimentais.
Estes estudos abrem caminho para novas perspectivas, especialmente em termos de compreensão e tratamento de doenças neurológicas em humanos. Ao entender melhor a funcionalidade e integração celulares, essa pesquisa poderia acelerar o desenvolvimento de modelos para condições como a doença de Parkinson e epilepsia, enquanto oferece oportunidades valiosas para terapias de substituição celular e interfaces homem-máquina. Além de camundongos e ratos, essa abordagem poderia até ser estendida a neurônios de primatas, o que aproximaria os pesquisadores da compreensão dos transtornos neurológicos humanos.