🍄 Contraintuitivo? Curar este fungo dos seus vírus torna-o muito menos perigoso

Publicado por Adrien,
Fonte: Nature Microbiology
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No universo dos micróbios, alguns segredos escondem-se no interior de outros organismos. Uma descoberta recente destaca um vírus alojado no coração de um fungo temido, abrindo perspetivas inesperadas para a medicina.

A Organização Mundial da SaĂșde classificou o fungo Aspergillus fumigatus como uma preocupação maior devido Ă  sua capacidade de provocar infeçÔes graves. Este microrganismo, presente no ambiente, liberta esporos que as pessoas inalam diariamente sem consequĂȘncias para a maioria. No entanto, em indivĂ­duos imunocomprometidos ou com doenças pulmonares, pode desencadear afecçÔes potencialmente fatais, com milhĂ”es de casos registados anualmente em todo o mundo.


Aspergillus fumigatus infetado por um vĂ­rus (Ă  direita) apresenta uma melhor sobrevivĂȘncia comparado com as estirpes nĂŁo infetadas (Ă  esquerda). CrĂ©dito: Marina Campos Rocha

Investigadores identificaram um vĂ­rus especĂ­fico, denominado AfuPmV-1M, que infeta este fungo. Ao contrĂĄrio do que se poderia pensar, este vĂ­rus nĂŁo prejudica o seu hospedeiro; pelo contrĂĄrio, confere-lhe vantagens significativas para sobreviver em condiçÔes hostis, incluindo... o corpo humano. Melhora nomeadamente a produção de melanina, um pigmento que reforça a resistĂȘncia do fungo, e otimiza a sua resposta ao stress ambiental.

Num estudo publicado na Nature Microbiology, experiĂȘncias em ratos mostraram que a administração de medicamentos antivirais direcionados a este vĂ­rus reduziu a carga do fungo hospedeiro nos pulmĂ”es e aumentou a taxa de sobrevivĂȘncia dos animais. Esta abordagem, que visa indiretamente o fungo atravĂ©s do seu vĂ­rus, representa uma estratĂ©gia inovadora para combater as infeçÔes fĂșngicas, sem agravar a situação como alguns estudos anteriores tinham receado.

As implicaçÔes sĂŁo vastas: se estes antivirais se revelarem eficazes em humanos, poderĂŁo ser utilizados para enfraquecer o fungo, permitindo que o sistema imunitĂĄrio ou os antifĂșngicos clĂĄssicos o eliminem. AlĂ©m disso, outros patĂłgenos fĂșngicos poderĂŁo albergar vĂ­rus semelhantes, o que abre caminho a novas investigaçÔes para compreender estas interaçÔes a nĂ­vel molecular.

Os vĂ­rus fĂșngicos e os seus hospedeiros


Os vĂ­rus que infetam os fungos, chamados micovĂ­rus, sĂŁo entidades biolĂłgicas fascinantes que evoluem em estreita associação com os seus hospedeiros. Ao contrĂĄrio dos vĂ­rus que atacam animais ou plantas, sĂŁo frequentemente especĂ­ficos de uma espĂ©cie fĂșngica particular, como o Aspergillus fumigatus para o vĂ­rus AfuPmV-1M.

Estes vírus podem modificar o metabolismo do fungo influenciando a síntese de proteínas e a regulação do ARN, uma molécula essencial para a produção dos componentes celares. Isto traduz-se numa melhor adaptação a stresses, como variaçÔes de temperatura ou a presença de substùncias tóxicas.

Em alguns casos, esta relação pode ser benĂ©fica para o fungo, conferindo-lhe uma virulĂȘncia aumentada ou uma resistĂȘncia aos antifĂșngicos. Compreender estes mecanismos permite desenvolver terapias inovadoras que visam nĂŁo o prĂłprio patĂłgeno, mas os elementos que o tornam mais perigoso.

As investigaçÔes em curso visam explorar se outros fungos patogĂ©nicos para o humano, como a Candida ou o Cryptococcus, albergam vĂ­rus semelhantes, o que poderĂĄ revolucionar a luta contra as infeçÔes fĂșngicas.
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