Um estudo realizado por cientistas do Inserm, do CNRS, do CHU de Lille, Universidade de Lille, Instituto Pasteur de Lille, publicado na revista
Diabetes, revela como o diabetes tipo 2 pode provocar mudanças epigenéticas que levam ao câncer de pâncreas. Liderada pela Dra. Amna Khamis e pelo Prof. Froguel da Universidade de Lille, esta pesquisa oferece novas perspectivas para a prevenção e tratamento de um dos cânceres mais agressivos.
Pacientes com diabetes tipo 2 apresentam um risco maior do que os não diabéticos de desenvolver câncer de pâncreas. Este é um dos cânceres mais letais porque geralmente é diagnosticado tardiamente. É crucial conhecer os eventos iniciais relacionados ao diabetes que favorecem o surgimento deste câncer para melhor preveni-lo e combatê-lo.
Neste estudo, os pesquisadores analisaram o DNA de amostras de pâncreas provenientes de 141 doadores. Eles descobriram que o diabetes provoca uma mudança epigenética, ou seja, uma modificação bioquímica de um gene que altera seu nível de atividade sem modificar a estrutura do DNA. Neste caso, trata-se de uma hipermetilação do gene PNLIPRP, uma modificação que reduz sua atividade.
Este gene está envolvido no metabolismo dos lipídios dentro do pâncreas exócrino, a parte do pâncreas responsável pela secreção de enzimas digestivas. Os resultados mostram que essa modificação do gene PNLIPRP1 está associada à hiperglicemia e à hiperlipidemia consequentes do diabetes tipo 2, e que ela provoca mudanças celulares no pâncreas exócrino típicas dos estados precancerosos.
Além disso, o estudo revela que mutações raras ou frequentes do gene PNLIPRP1 estão associadas a anomalias no controle glicêmico, demonstrando pela primeira vez o papel do pâncreas exócrino, e não apenas do endócrino (parte do pâncreas que secreta insulina), no surgimento do diabetes tipo 2. Em geral, o gene PNLIPRP1 e o metabolismo dos lipídios parecem ter um papel crucial em um círculo vicioso que conecta diabetes, câncer de pâncreas e pâncreas exócrino.
Os pesquisadores sugerem que o uso de estatinas, medicamentos amplamente utilizados para reduzir o colesterol, pode interromper esse processo a nível celular e, assim, proteger os pacientes contra o câncer de pâncreas.
O diabetes tipo 2 afeta cerca de 4 milhões de pessoas na França e 537 milhões no mundo, e este número está em constante aumento. Pacientes com diabetes apresentam um risco maior de desenvolver câncer de pâncreas, que continua sendo um dos mais agressivos, com cerca de 14.000 novos casos por ano na França e 460.000 globalmente. Este câncer é frequentemente diagnosticado tardiamente, tornando a prevenção crucial.