Uma descoberta geológica maior na Austrália pode mudar o jogo para o abastecimento mundial de nióbio, um metal raro e estratégico indispensável para muitas tecnologias modernas. Este recurso, um dos mais importantes já identificados, parece ter nascido há mais de 800 milhões de anos, durante um evento tectônico maior que moldou o nosso planeta.
Os pesquisadores analisaram amostras de rochas carbonatitos, extraídas por perfuração na província de Aileron, na Austrália. Essas rochas, ricas em minerais portadores de nióbio, foram datadas com precisão graças ao estudo de cristais de zircão, cujas assinaturas isotópicas serviram como verdadeiros arquivos geológicos. Os resultados indicam uma formação contemporânea à fragmentação do supercontinente Rodínia, um período de profundas transformações da crosta terrestre.
Cristais de zircão analisados no estudo, medindo entre 0,1 e 1 mm. Suas composições isotópicas permitiram datar precisamente a formação dos carbonatitos. Crédito: Droellner et al., Geological Magazine, 2025, CC BY
O nióbio é um metal com propriedades excepcionais: resistente à corrosão e utilizado como supercondutor a temperaturas muito baixas (capaz de conduzir eletricidade sem perda de energia), é indispensável para os ímãs de scanners médicos de ressonância magnética ou aceleradores de partículas. Atualmente, 90% da produção mundial provém de uma única mina no Brasil, o que torna esta nova fonte australiana particularmente promissora para diversificar os abastecimentos.
Os carbonatitos, rochas magmáticas ricas em carbonatos, atuam como verdadeiros cofres do tesouro geológicos, concentrando metais raros e terras raras. Sua formação a partir do manto terrestre, revelada por análises isotópicas, sugere uma ascensão de magma profunda facilitada pelo adelgaçamento da crosta durante a desagregação da Rodínia. Esta compreensão abre caminho para novas explorações direcionadas.
Os depósitos de Luni e Crean, estimados respectivamente em 200 milhões e 3,5 milhões de toneladas de nióbio, ainda necessitam de estudos para mapear sua extensão tridimensional. No entanto, esta pesquisa, publicada na Geological Magazine, já fornece pistas preciosas para identificar outros depósitos similares ao redor do mundo, reforçando assim a segurança de abastecimento para as indústrias de alta tecnologia.
Os carbonatitos: rochas magmáticas com tesouros metálicos
Os carbonatitos são rochas ígneas raras, compostas principalmente de minerais carbonatados como a calcita ou a dolomita, que se formam a partir de magmas ricos em dióxido de carbono. Ao contrário das rochas vulcânicas comuns, elas frequentemente provêm de grandes profundidades no manto terrestre, onde processos geoquímicos complexos concentram elementos metálicos preciosos.
Sua formação está geralmente associada a pontos tectônicos específicos, como os riftes continentais ou os pontos quentes do manto. Quando a crosta terrestre se adelgaça, como durante a fragmentação de um supercontinente, o magma carbonatítico pode ascender mais facilmente, cristalizando em profundidade ou na superfície para formar intrusões rochosas.
Essas rochas são economicamente vitais porque abrigam não apenas nióbio, mas também terras raras, fósforo e outros metais críticos. Sua exploração baseia-se em técnicas avançadas como a perfuração a diamante, permitindo extrair testemunhos para análise mineralógica e geoquímica.
Compreender sua gênese ajuda os geólogos a prever onde buscar novos depósitos, reduzindo assim os custos e os impactos ambientais da exploração mineira.