🚨 Fraudes generalizadas em publicações matemáticas

Publicado por Adrien,
Fonte: arXiv
Outras Línguas: FR, EN, DE, ES
Na paisagem académica, a obsessão por números e classificações pode, por vezes, mascarar o verdadeiro valor da investigação. Sinais de alerta indicam que alguns sistemas de avaliação, em vez de promoverem a excelência, incentivam práticas duvidosas.

Sob a direção de Ilka Agricola, professora na Universidade de Marburg, na Alemanha, um grupo de investigadores internacionais realizou um estudo aprofundado sobre publicações matemáticas. Comissionados pela Sociedade Matemática Alemã (DMV) e pela União Matemática Internacional (IMU), descobriram fraudes generalizadas e duradouras, orquestradas para aumentar artificialmente as pontuações de desempenho. Os seus resultados, primeiro divulgados na plataforma de pré-publicação arXiv, e depois detalhados nas Notices of the American Mathematical Society, atraíram imediatamente a atenção e levantaram preocupações na comunidade matemática mundial.


As métricas utilizadas para avaliar a qualidade da investigação, como o número de publicações, as citações ou o fator de impacto das revistas, são frequentemente geradas por empresas privadas com métodos pouco transparentes. Estes indicadores, comercializados à escala global, beneficiam de um controlo limitado por parte da comunidade científica. Algumas organizações fraudulentas especializam-se em ajudar investigadores e instituições a manipular estes números, atraídas por benefícios como financiamentos acrescidos, propinas mais elevadas e uma atratividade internacional reforçada.

O estudo cita exemplos elucidativos, como o relatado pela Clarivate Inc. em 2019, em que uma universidade taiwanesa sem programa de matemática foi classificada como tendo o maior número de investigadores de classe mundial em matemática. Além disso, as megarevistas, que aceitam praticamente todos os artigos mediante pagamento, produzem agora mais artigos por ano do que o conjunto das revistas matemáticas reputadas sem barreira de pagamento. Nas sombras, intermediários anónimos vendem métricas fabricadas, oferecendo artigos prontos a publicar ou aumentos de citações contra remuneração.

O secretário-geral da IMU, Christoph Sorger, alerta para os riscos da 'ciência falsa', que não só perturba a comunidade científica como também corrói a confiança do público. Explica que esta situação torna árdua a triagem entre as informações válidas e as que não o são, dificultando assim o progresso do conhecimento. Por sua vez, o presidente da DMV, Jürg Kramer, apela a uma reformulação das práticas para restabelecer a integridade nas publicações matemáticas.

As propostas da comissão incluem medidas para melhorar a transparência das métricas de avaliação e reforçar os processos de revisão por pares. O objetivo principal é recentrar a atenção na contribuição científica real, em vez de em indicadores quantitativos frequentemente sujeitos a manipulação. Esta iniciativa visa restaurar a confiança e garantir que a investigação matemática continue a servir de base sólida para os avanços futuros.

O fator de impacto


O fator de impacto é um indicador numérico que mede a frequência média com que os artigos de uma revista são citados num determinado período. É frequentemente utilizado como um indicador da qualidade ou influência de uma publicação. Calculado por empresas como a Clarivate, baseia-se no número de citações recebidas pelos artigos publicados na revista nos dois anos anteriores, dividido pelo número de artigos publicados durante esse mesmo período.

No entanto, o fator de impacto apresenta várias limitações. Pode ser influenciado por áreas de investigação onde as citações são mais frequentes, independentemente da qualidade. Além disso, não tem em conta a diversidade dos tipos de artigos ou o seu impacto a longo prazo. A pressão para publicar em revistas com alto fator de impacto pode incentivar os investigadores a privilegiar temas da moda em vez de trabalhos inovadores, mas menos citados.

Para combater estes problemas, são propostas alternativas como métricas baseadas no uso ou avaliações qualitativas. O objetivo é desenvolver sistemas de avaliação mais justos e representativos do valor científico real, reduzindo assim os incentivos à manipulação. Por exemplo, o movimento pela ciência aberta incentiva a publicação de dados e métodos, permitindo uma verificação independente.
Página gerada em 0.104 segundo(s) - hospedado por Contabo
Sobre - Aviso Legal - Contato
Versão francesa | Versão inglesa | Versão alemã | Versão espanhola