A exploração espacial muitas vezes nos revela surpresas inesperadas. Em junho de 2023, durante seu sobrevoo de Mercúrio, a missão BepiColombo coletou informações sobre o campo magnético do planeta. Essas observações proporcionam uma prévia das descobertas futuras, quando a sonda colocar dois orbitadores ao redor de Mercúrio em 2026.
Mercúrio, embora muito pequeno, possui um campo magnético que cria uma "bolha" protetora ao redor do planeta: a magnetosfera. Este campo é cerca de 100 vezes mais fraco do que o da Terra, mas interage intensamente com as partículas carregadas vindas do Sol, o vento solar.
A magnetosfera de Mercúrio captada durante o terceiro sobrevoo da BepiColombo. Crédito: Agência Espacial Europeia
BepiColombo, um projeto colaborativo entre a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Agência Espacial Japonesa (JAXA), tem como missão estudar essa magnetosfera e explorar como Mercúrio reage ao ambiente espacial extremo próximo ao Sol. Nesta distância, as interações entre o vento solar e a magnetosfera são mais intensas do que em outras partes do Sistema Solar.
Durante o sobrevoo de junho de 2023, alguns dos instrumentos científicos a bordo da BepiColombo capturaram dados importantes. A equipe de Lina Hadid, que utiliza os instrumentos do orbitador Mio, analisou o ambiente magnético de Mercúrio, cartografando, em especial, as partículas presentes e sua energia, em um curto intervalo de 30 minutos.
A equipe observou algumas estruturas esperadas, como o limite onde o vento solar livre encontra a magnetosfera. No entanto, também foram feitas descobertas mais surpreendentes, como a presença de uma camada de plasma em baixa latitude, revelando energias de partículas nunca antes vistas em Mercúrio.
Além disso, íons energéticos foram detectados perto do equador, sugerindo a presença de uma "corrente anelar". Esse tipo de corrente é bem conhecido ao redor da Terra, mas, em Mercúrio, o pequeno tamanho da magnetosfera torna difícil a compreensão desse fenômeno. Esta questão provavelmente será resolvida quando a sonda estiver totalmente operacional em 2026.
Outra descoberta intrigante diz respeito à detecção de íons frios na superfície de Mercúrio, como oxigênio, sódio e potássio. Essas partículas provavelmente são ejetadas por micrometeoritos ou pelo vento solar, oferecendo assim uma visão tridimensional da composição da superfície do pequeno planeta.
Essas primeiras observações mostram o enorme potencial da missão BepiColombo para compreender as interações complexas entre Mercúrio e seu ambiente espacial. A partir de 2026, os dois orbitadores da missão fornecerão dados contínuos que permitirão entender melhor a evolução dessa magnetosfera única e as interações que ocorrem em tempo real.
A missão BepiColombo
BepiColombo é uma missão espacial conjunta da Agência Espacial Europeia (ESA) e da Agência Espacial Japonesa (JAXA), destinada a explorar Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol. Lançada em outubro de 2018, ela visa compreender melhor o ambiente extremo e a composição de Mercúrio, especialmente seu campo magnético e sua interação com o vento solar.
A missão utiliza dois orbitadores: o Mercury Planetary Orbiter (MPO) da ESA, e o Mercury Magnetospheric Orbiter (MMO, ou Mio) da JAXA. Essas duas sondas são transportadas juntas em direção a Mercúrio, e se separarão em 2026 para entrar em órbita ao redor do planeta, permitindo observações complementares.
BepiColombo deve esclarecer vários mistérios sobre Mercúrio, incluindo a formação de seu campo magnético, a composição de sua superfície e as interações entre a tênue atmosfera do planeta e as partículas carregadas vindas do Sol.