As línguas são muito mais do que uma simples ferramenta de comunicação. Elas refletem os valores e as experiências cotidianas dos povos que as falam.
Um estudo recente publicado nos
Proceedings of the National Academy of Sciences explorou as ligações entre as línguas e os conceitos que elas privilegiam. Utilizando métodos computacionais, os pesquisadores analisaram 1574 dicionários bilíngues abrangendo 616 línguas diferentes. Essa abordagem permitiu identificar padrões linguísticos únicos em cada cultura.
Entre as descobertas, o mongol se destaca por seu vocabulário rico em torno do cavalo, enquanto o japonês se sobressai nos termos relacionados ao gosto. Esses resultados confirmam observações antigas, mas com um rigor científico inédito. O método também permitiu testar hipóteses controversas, como a do número elevado de palavras para neve nas línguas inuit.
Ao contrário do que se pensava, as línguas inuit realmente possuem um vocabulário excepcionalmente rico para descrever a neve. O inuktitut do leste do Canadá, por exemplo, tem termos específicos para fenômenos como o caminhar barulhento sobre a neve dura. Essa descoberta destaca a importância do ambiente no desenvolvimento linguístico.
No entanto, o estudo também revela surpresas. As línguas da África do Sul, por exemplo, têm um vocabulário rico em torno da chuva, apesar de precipitações moderadas. Isso sugere que a importância cultural de um fenômeno pode influenciar sua expressão linguística tanto quanto sua frequência.
Os pesquisadores também identificaram línguas com um vocabulário olfativo desenvolvido, como o marshallês, que possui termos específicos para odores como o do sangue ou do peixe. Essas descobertas abrem novas perspectivas sobre a relação entre língua e percepção sensorial.
Apesar dos avanços, o estudo reconhece suas limitações. Alguns resultados podem ser influenciados pela estrutura dos dicionários utilizados, e é crucial evitar estereótipos culturais.