Nossos ancestrais devoravam o cérebro de seus inimigos 💀

Publicado por Cédric,
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Scientific Reports
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Em uma caverna na Polônia, pesquisadores descobriram evidências perturbadoras de um canibalismo metódico praticado por grupos humanos do período Magdaleniano. Ao contrário de um ato de sobrevivência ditado pela fome, o consumo de carne humana parece estar ligado a conflitos entre grupos rivais. Em particular, os crânios das vítimas foram sistematicamente fraturados, provavelmente para extrair o cérebro, uma fonte de nutrientes altamente valorizada.

Uma descoberta arqueológica importante


A caverna de Maszycka, localizada perto de Cracóvia, está no centro dessa revelação. Já explorada no século XIX, este sítio arqueológico revelou novos segredos graças a análises modernas. Em 2023, uma equipe de pesquisadores reexaminou ossos humanos, utilizando técnicas avançadas como microscopia 3D para revelar os menores detalhes.


a, b) Danos por percussão em fragmentos de crânio (vermelho).
c, d, f, i, j, t) Marcas de descarnamento no crânio (azul e amarelo).
e, u) Marcas de escalpelamento.
g, h) Marcas de descarnamento em uma mandíbula.
l, n) Marcas de descarnamento em uma clavícula.
o) Marcas de descarnamento em um rádio.
p, q) Marcas de descarnamento em um fêmur.
s) Marcas de descarnamento em uma fíbula.
k, r) Marcas de desarticulação em um úmero.
m) Marcas de remoção de pele em uma clavícula (verde).
A identificação dos espécimes está localizada ao lado da escala na parte inferior das imagens.

Esses restos pertencem a pelo menos dez indivíduos – seis adultos e quatro crianças. O estudo minucioso dos ossos revelou marcas de cortes e fraturas que não podem ser atribuídas a animais carniceiros nem a acidentes pós-morte. As marcas encontradas testemunham um processo metódico: os corpos foram manipulados com precisão, sua carne removida e seus ossos intencionalmente quebrados.

Indícios de um canibalismo estruturado


Entre os elementos mais impressionantes, os pesquisadores identificaram cortes limpos no couro cabeludo, sugerindo escalpelamento, bem como a remoção das orelhas e da mandíbula. Muitas fraturas foram observadas nos ossos longos dos membros, um procedimento conhecido para extrair a medula óssea, uma fonte valiosa de lipídios. Mas é principalmente o estado dos crânios que chama a atenção: as fraturas ao longo do crânio parecem indicar uma intenção específica de acessar a caixa craniana para remover o cérebro.

O caráter sistemático dessas mutilações sugere que essas práticas não se resumem a uma simples execução violenta. Tratar-se-ia, antes, de um comportamento recorrente dentro desses grupos humanos, possivelmente integrado em seus rituais e tradições.

Uma explicação no contexto da época


Por que esses atos? Os pesquisadores descartam a hipótese de canibalismo de sobrevivência. As populações do Magdaleniano, em plena expansão após o último período glacial, não parecem ter sofrido com fomes extremas. Pelo contrário, essa época é marcada por um aumento no número de indivíduos e uma competição acirrada por recursos.

Nesse contexto, a violência entre grupos poderia ser exacerbada. O ato de consumir os inimigos derrotados, especialmente seus cérebros, poderia ter tido uma dupla função:
- Humilhar o adversário, reduzindo-o a um mero alimento.
- Apropriar-se simbolicamente de sua força ou inteligência, de acordo com crenças possivelmente ligadas a rituais xamânicos ou animistas.

As vítimas encontradas na caverna de Maszycka parecem constituir uma unidade familiar inteira, o que sugere um ataque brutal em que um grupo inteiro foi capturado, morto e consumido.

Um fenômeno difundido na Pré-História?


Maszycka não é o único local onde tais práticas foram identificadas. Na Inglaterra, na caverna de Gough, ossos datados do mesmo período apresentam marcas semelhantes de corte e transformação. Alguns crânios lá haviam até sido moldados em copos, reforçando a ideia de que esses atos estavam integrados em uma lógica ritualística.

Essas descobertas questionam nossa percepção das sociedades pré-históricas. Longe de serem apenas caçadores pacíficos vivendo em harmonia com a natureza, alguns grupos humanos estavam envolvidos em conflitos violentos, onde o canibalismo desempenhava um papel estratégico, simbólico e talvez até religioso.

Essas práticas, embora chocantes do ponto de vista moderno, testemunham a complexidade dos comportamentos humanos desde a Pré-História. Elas nos lembram que a fronteira entre guerra, sobrevivência e ritual era às vezes muito mais tênue do que imaginávamos.

Para ir mais longe: Como identificar marcas de corte em ossos fósseis?


As marcas de corte em ossos fósseis são analisadas com o uso de microscópios 3D. Elas apresentam estrias paralelas com bordas afiadas, frequentemente em forma de V, características de ferramentas de sílex. Sua orientação e localização permitem distinguir uma ação humana de uma simples mordida animal ou de uma alteração natural.

A experimentação com ferramentas pré-históricas ajuda a comparar marcas modernas e fósseis. Ao reproduzir gestos de corte em carcaças recentes, os pesquisadores estabelecem critérios precisos de reconhecimento. Essa abordagem experimental confirma o uso de técnicas específicas de açougue entre os Magdalenianos.

A distribuição das marcas no esqueleto fornece informações sobre práticas de esfola e consumo. Incisões nas articulações sugerem um desmembramento metódico, enquanto estrias nas costelas indicam a extração cuidadosa dos músculos. Esses indícios permitem reconstituir os gestos e motivações dos grupos humanos do passado.
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