A origem do órgão vocal dos pássaros, a siringe, permaneceu um mistério até recentemente. Pesquisadores da Universidade do Texas em Austin se empenharam em desvendar esse segredo examinando de perto as siringes de beija-flores e avestruzes, revelando conexões surpreendentes com a evolução dos órgãos vocais em répteis e mamíferos, incluindo os seres humanos.
Pesquisas recentes revelaram uma ligação genética entre a laringe dos mamíferos e a siringe dos pássaros, ilustrando a evolução desses órgãos vocais em diversas linhagens animais. Crédito: Michael Chiappone
Estudos mostram que a siringe e a laringe compartilham uma programação genética comum, um exemplo marcante de "homologia profunda". Segundo a professora Julia Clarke, essa descoberta é do mesmo porte que a transição das nadadeiras para os membros, destacando um órgão totalmente novo com uma função antiga e comum.
As pesquisas, iniciadas em 2013 com a descoberta de uma siringe fóssil na Antártica, revelaram detalhes inéditos sobre a estrutura desse órgão graças a técnicas inovadoras de preservação e escaneamento por TC. Clarke e sua equipe puderam assim comparar a siringe fóssil com as dos pássaros modernos, preenchendo uma lacuna na literatura científica.
Os estudos realizados com avestruzes mostram que os machos produzem uma variedade de sons mais rica do que as fêmeas, apesar das anatomias de siringe similares. Essas descobertas, feitas em uma fazenda no Texas, ilustram como o comportamento dos pássaros influencia seu repertório vocal.
Quanto aos beija-flores, suas siringes compartilham estruturas similares com as dos andorinhões e noitibós, sugerindo que o ancestral comum desses pássaros já possuía pregas vocais complexas. Isso pode ter facilitado a evolução do aprendizado vocal nos beija-flores, que dominam cantos sofisticados aprendidos de seus congêneres.
Um estudo realizado em colaboração com o biólogo Clifford Tabin de Harvard revelou que os mesmos genes regulam o desenvolvimento da laringe e da siringe, destacando uma estrutura celular e propriedades vibratórias similares. Essa pesquisa aprofundada sobre a expressão genética em 14 espécies de pássaros indica que o ancestral comum dos pássaros modernos possuía uma siringe com duas fontes sonoras independentes.
Embora progressos significativos tenham sido feitos, a data de aparecimento da siringe e sua presença em dinossauros não avianos permanecem desconhecidas. Para entender melhor a produção sonora nos dinossauros, os cientistas continuam estudando as vocalizações dos pássaros atuais e de seus primos répteis.