Pesquisadoras e pesquisadores afiliados à Universidade McGill fizeram uma descoberta que pode levar à melhoria da prevenção e tratamento da malária e outras doenças parasitárias.
Equipes de pesquisa da Universidade McGill, do Centro de Pesquisa Douglas e do Instituto de Pesquisa do Centro Universitário de Saúde McGill constataram sintomas menos graves da doença e uma proliferação de parasitas mais limitada em ratos infectados durante a madrugada por parasitas causadores da malária, em comparação com ratos infectados durante o dia.
Imagem de ilustração Pixabay
A malária é uma doença transmitida por mosquitos e afeta centenas de milhões de pessoas no mundo, com mais de meio milhão de mortes por ano, na sua maioria crianças. O neuromalária é a forma mais letal da doença.
Esses resultados podem levar à implementação de novos tratamentos que considerem os ritmos circadianos.
A interação entre os ritmos circadianos do hospedeiro e os dos parasitas
Os ritmos circadianos são variações na fisiologia e comportamento, cujos ciclos duram cerca de 24 horas, correspondente ao tempo de uma rotação da Terra, e que continuam existindo mesmo na ausência de pistas sobre a passagem do tempo. Esses ritmos são controlados por um relógio biológico localizado no cérebro e outros relógios situados na maioria dos órgãos e células do organismo.
"Estudamos o efeito da interação entre os ritmos circadianos do hospedeiro e os dos parasitas da malária sobre a gravidade da doença e sobre a capacidade do hospedeiro de combater a infecção", explica Priscilla Carvalho Cabral, recentemente doutora pela Universidade McGill e responsável pelos experimentos descritos em dois estudos recentes sobre o tema.
"As diferenças observadas na reação do hospedeiro à infecção dependendo da hora do dia sugerem que os ritmos circadianos influenciam no progresso da doença", detalha Nicolas Cermakian, diretor do Laboratório de Cronobiologia Molecular e autor que supervisionou os dois estudos. "O efeito desses relógios biológicos imunológicos sobre a malária nunca tinha sido estudado."
Novos dados importantes
Nos parasitas e seus hospedeiros animais, assim como na maioria dos organismos vivos, os ritmos circadianos regulam diversas funções fisiológicas. Sabemos, por exemplo, que a replicação dos parasitas da malária no interior das hemácias do hospedeiro segue um ritmo diário.
Trabalhos anteriores da mesma equipe mostraram que outra doença parasitária grave, a leishmaniose, era influenciada pelos relógios biológicos do hospedeiro: o momento da infecção afeta a replicação dos parasitas e a resposta imunológica. Os novos estudos constataram que o mesmo acontece no neuromalária.
"Os novos dados que obtivemos são importantes, dado que os mecanismos que regulam os ritmos da sensibilidade para essas doenças, especialmente as parasitárias, ainda são em grande parte desconhecidos", comenta Martin Olivier, diretor do Laboratório de Estudo das Interações Hospedeiro-Parasita, professor no Departamento de Microbiologia e Imunologia da Universidade McGill e coautor dos dois estudos.
Os estudos
O artigo "
Time of Day and Circadian Disruption Influence Host Response and Parasite Growth in a Mouse Model of Cerebral Malaria", por Priscilla Carvalho Cabral et al., foi publicado na
iScience.
DOI: https://doi.org/10.1016/j.isci.2024.109684
O artigo "
Circadian Control of the Response of Macrophages to Plasmodium spp.-Infected Red Blood Cells", por Priscilla Carvalho Cabral et al., foi publicado na
ImmunoHorizons.
DOI: https://doi.org/10.4049/immunohorizons.2400021