Um novo estudo publicado no
Journal of Infectious Diseases pela pesquisadora Helen Trottier, epidemiologista do Centro de Pesquisa Azrieli do CHU Sainte-Justine e professora da Escola de Saúde Pública da Universidade de Montreal, demonstra que quase todos os recém-nascidos que contraem o vírus do papiloma humano (HPV) no contexto perinatal eliminam-no nos primeiros seis meses de vida, sendo muito baixa a sua persistência ou recorrência.
Assim, os bebês que contraíram o HPV ao nascer eliminaram o vírus em menos de quatro meses, em média, e todos o eliminaram em menos de dois anos.
Estes dados provêm da coorte Héritage, composta por 422 grávidas com diagnóstico positivo de HPV e acompanhadas no CHU Sainte-Justine, no CHUM ou no Centro Hospitalar de St. Mary.
Os bebês de 200 dessas mulheres foram acompanhados durante dois anos e os de 75 delas durante cinco anos. Apenas 2 bebês tiveram uma infecção recorrente por HPV, ou seja, após um teste negativo, houve um teste positivo numa consulta subsequente. Além disso, um bebê teve um teste positivo em duas consultas consecutivas, pelo que a sua infecção foi considerada persistente.
Por outro lado, a equipa também descobriu novos casos de infecção por HPV, mesmo em bebês que não o tinham contraído ao nascer. Assim, em algum momento dos dois anos de acompanhamento, 26 crianças adquiriram um genótipo do vírus que não tinha sido detectado anteriormente. "Pode tratar-se de uma transmissão pela mãe após o nascimento ou pelo pai ou por outra pessoa que cuida da criança, por exemplo, ao dar banho ou trocar a fralda", explica a pesquisadora. No entanto, todos os bebês que tinham contraído o HPV na coorte eliminaram o vírus antes dos dois anos de idade.
"Estes dados são muito encorajadores", destaca Eméra Alice Bénard, estudante de mestrado em epidemiologia na UdeM e primeira autora do artigo. "Sabemos agora que é pouco provável que uma mãe transmita o vírus ao bebê durante a gravidez ou o parto. Em caso de transmissão, o risco de o bebê desenvolver uma forma grave ou persistente da doença é muito, muito baixo. Isto certamente ajudará a tranquilizar as grávidas com diagnóstico de HPV."
Um risco baixo para o bebê... mas importante para as mulheres
Apesar destes resultados promissores, Helen Trottier lembra a importância da vacinação para evitar complicações do HPV em adultos, incluindo cancros genitais e orais. Este vírus, muito comum em pessoas em idade fértil, é reconhecido como o principal fator de risco para o cancro do colo do útero, além de ser responsável por cerca de um terço dos cancros da cabeça e do pescoço. Vários estudos também associaram a infecção por HPV a um aumento do risco de parto prematuro.
"A vacinação é um meio muito eficaz de prevenir o HPV. Mesmo que o risco seja baixo para o bebê, devemos fazê-lo obrigatoriamente por nós mesmas", conclui a pesquisadora.