No auge do verão, em uma estrada asfaltada aquecida pelo sol, é comum avistarmos ao longe o que parece ser uma poça d'água. Motoristas e ciclistas vivenciam isso: parece haver uma superfÃcie brilhante logo à frente, mas ao se aproximar, ela desaparece como por encanto. Esse fenômeno tem um nome: o mirage.
Um mirage não é uma alucinação, mas sim um efeito óptico. Ele ocorre quando a luz que enxergamos sofre um desvio ao atravessar camadas de ar com temperaturas diferentes. No verão, o sol aquece a superfÃcie da estrada, que por sua vez aquece o ar logo acima. Resultado: forma-se uma camada de ar muito quente, portanto menos densa, rente ao solo, enquanto o ar mais elevado é mais frio e mais denso.
O lago que você vê na foto não é real. É um mirage como os que às vezes aparecem nos desertos. Fotografado em Primm, Nevada, em 4 de abril de 2007.
A luz se desloca em velocidades ligeiramente diferentes dependendo da densidade do ar. Quando passa de uma camada de ar mais densa para uma mais quente e menos densa, ela se curva gradualmente. Isso é chamado de refração. Em uma estrada superaquecida, essa curvatura é significativa o suficiente para que a luz proveniente do céu seja desviada em direção aos nossos olhos.
Nosso cérebro interpreta então esses raios de luz como se viessem do chão. Como a luz transportada é a do céu, geralmente azul ou clara, temos a impressão de ver uma superfÃcie reflexiva, semelhante à água. Portanto, não é uma poça, mas um pedaço do céu "projetado" pela estrada, de acordo com as leis da óptica.
Chamamos esse tipo de mirage de mirage inferior, porque a imagem parece se formar abaixo do objeto real (neste caso, o céu). Esse fenômeno é muito comum em áreas áridas, em estradas asfaltadas no verão, ou mesmo sobre dunas no deserto. Viajantes a pé ou a cavalo frequentemente confundiram esses reflexos com pontos d'água reais, o que explica por que a palavra "mirage" está associada à ideia de ilusão enganosa.
Os mirages não se limitam às estradas de verão. Em montanhas, no mar ou em regiões polares, podemos observar outros tipos, como o mirage superior, causado por camadas de ar invertidas (mais quentes acima, mais frias abaixo). Esse tipo pode dar a ilusão de barcos ou costas flutuando no ar.
Na realidade, ver um mirage é a prova de que nossos olhos e cérebro funcionam perfeitamente... mas que a fÃsica da luz não segue o mesmo caminho que nossa intuição. O fenômeno depende de diversos fatores: a temperatura do solo, a intensidade da radiação solar, a umidade do ar e até a cor da superfÃcie.
Para observá-lo facilmente, basta dirigir em uma estrada em uma tarde de verão e observar o horizonte. As "poças" aparecem e desaparecem conforme avançamos, como se recuassem diante de nós. Essa é a assinatura do mirage: uma imagem que só existe em uma posição precisa, desaparecendo assim que mudamos o ângulo de visão.