O Mar Mediterrâneo está a passar por uma transformação ecológica significativa devido ao aquecimento global. As águas estão a aquecer rapidamente, favorecendo a chegada de espécies exóticas que perturbam os equilíbrios naturais. Este fenómeno, observado de perto por cientistas e mergulhadores, pode estender-se a toda a bacia mediterrânica nas próximas décadas.
As temperaturas elevadas registadas em profundidade, atingindo por vezes cerca de 30°C, tornaram-se comuns em algumas zonas, como a costa turca. Murat Draman, um instrutor de mergulho, testemunha mudanças dramáticas: onde as águas rondavam os 25°C há vinte anos, atingem agora cerca de 32°C à superfície. Este aumento térmico abre caminho para que espécies originárias do Mar Vermelho e do Oceano Atlântico tropical, que migram através do Canal do Suez e do Estreito de Gibraltar, colonizem progressivamente o Mediterrâneo.
Um peixe-leão, espécie invasora que vive normalmente em mares tropicais. Imagem Wikimedia
Entre estes recém-chegados, o peixe-leão destaca-se pela sua perigosidade e impacto devastador. Este predador voraz, desprovido de predadores naturais no Mediterrâneo, prolifera rapidamente e dizima as populações de pequenos peixes locais. As observações em mergulho revelam um aumento alarmante do seu número, sinalizando uma perturbação profunda das cadeias alimentares e da biodiversidade marinha.
Cientistas como o professor Gil Rilov alertam para a rapidez desta invasão, acelerada pelo recente alargamento do Canal do Suez e pelo contínuo aquecimento. Muitas espécies nativas já desapareceram do Mediterrâneo oriental, servindo de aviso para o resto da bacia. Modelos preveem uma expansão para norte e oeste, com cenários que apontam para uma tropicalização completa até ao final do século.
Perante esta ameaça, estão a ser consideradas medidas de conservação para proteger as zonas marinhas sensíveis. A ausência de predadores naturais contra espécies invasoras como o peixe-leão torna a situação particularmente crítica.
O aquecimento dos oceanos
O aquecimento global está a provocar um aumento das temperaturas oceânicas, afetando as correntes marinhas e a vida marinha. As águas mais quentes alteram os habitats naturais, forçando algumas espécies a migrar para latitudes mais frias ou a desaparecer se não conseguirem adaptar-se.
Este fenómeno é particularmente visível no Mediterrâneo, onde o aquecimento é mais rápido do que a média global. Dados de satélite e medições in situ confirmam uma tendência de aumento ao longo de várias décadas, com recordes de calor batidos recentemente.
As consequências incluem o degelo polar, a subida do nível do mar e a acidificação das águas, que afetam os corais e outros organismos marinhos. Compreender estes mecanismos é vital para prever mudanças futuras e desenvolver estratégias de adaptação.
As espécies invasoras e os seus impactos
Uma espécie invasora é um organismo introduzido num novo ambiente onde não evoluiu naturalmente, frequentemente com efeitos negativos no ecossistema local. Estas introduções podem ocorrer através de atividades humanas, como o transporte marítimo ou canais artificiais.
No Mediterrâneo, a abertura do Canal do Suez em 1869 permitiu a entrada de muitas espécies do Mar Vermelho. Com o aquecimento das águas, o seu estabelecimento e propagação são facilitados, ameaçando a biodiversidade nativa.
Os impactos ecológicos incluem a competição por recursos, a predação sobre espécies locais e a alteração de habitats. Por exemplo, o peixe-leão consome grandes quantidades de pequenos peixes, desequilibrando as redes tróficas. A gestão destas invasões requer uma vigilância contínua e, por vezes, intervenções direcionadas.