Pesquisadores demonstraram que há cerca de 9.000 anos, a camada de gelo da Antártica Oriental experimentou um recuo espetacular sob o efeito de um fenômeno em cascata. A água profunda circumpolar, mais quente, intensificou-se ao longo das costas, provocando o colapso das plataformas de gelo flutuantes que normalmente retinham o fluxo das geleiras continentais.
Os cientistas puderam determinar que o derretimento do gelo em outros setores da Antártica, como a plataforma de Ross, havia modificado a composição das águas oceânicas. O aporte de água doce proveniente deste derretimento criou uma estratificação vertical mais acentuada na coluna de água, limitando a mistura das camadas superficiais frias com as águas profundas mais quentes.
Os modelos climáticos e oceanográficos de alta resolução confirmaram a existência de um ciclo de retroalimentação auto-sustentado. A estratificação reforçada facilitou a ascensão das águas profundas quentes em direção às plataformas continentais da Antártica Oriental, desencadeando por sua vez mais derretimento.
Esta pesquisa internacional, envolvendo mais de trinta instituições ao redor do mundo, demonstra que as dinâmicas identificadas no passado permanecem relevantes hoje. O professor Yusuke Suganuma salienta que estes trabalhos fornecem elementos essenciais para melhorar as previsões sobre a evolução futura da camada de gelo antártica.
As observações contemporâneas mostram efetivamente que geleiras como Thwaites e Pine Island já estão sofrendo processos similares de erosão por águas quentes, com consequências potenciais importantes sobre a elevação do nÃvel dos mares.