🌟 Enigmática: esta estrela, em par com um buraco negro, é ao mesmo tempo jovem e velha

Publicado por Adrien,
Fonte: The Astronomical Journal
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Um casal celestial particular foi identificado a cerca de 3.800 anos-luz de distância, na constelação do Centauro. Designado Gaia BH2, este sistema associa uma gigante vermelha que gira rapidamente sobre si mesma a um companheiro invisível: um buraco negro. O par foi detectado pela primeira vez em 2023 pelo satélite Gaia da Agência Espacial Europeia, especializado no mapeamento estelar. Para aprofundar esta descoberta, uma equipa recorreu ao satélite TESS da NASA, concebido originalmente para a caça a exoplanetas.

A principal ferramenta desta investigação foi o estudo dos tremores de estrela, oscilações que agitam a superfície dos astros. À semelhança dos sismólogos que sondam o interior da Terra através das ondas sísmicas, os astrofísicos usam estas vibrações para sondar as camadas internas das estrelas (ver a explicação no final do artigo). O responsável da equipa, Daniel Hey do Instituto de Astronomia da Universidade do Havai, indicou que estas oscilações estelares permitem compreender a estrutura interna de astros distantes.


Imagem Wikimedia

A análise da composição da gigante vermelha reservou uma primeira surpresa. A estrela parece enriquecida em elementos pesados, uma característica típica de astros muito antigos. No entanto, a sua idade deduzida a partir das suas pulsações é de apenas cerca de 5 mil milhões de anos. A título de comparação, o nosso Sol, com 4,6 mil milhões de anos, só entrará na sua fase de gigante vermelha daqui a 5 mil milhões de anos. Esta combinação de juventude e química antiga é invulgar e representa um enigma (mais detalhes abaixo).

Outra particularidade intriga os investigadores: a velocidade de rotação do astro. Observações no solo mostraram que ela efetua uma rotação completa sobre si mesma em 398 dias terrestres, um ritmo bem mais rápido do que o das gigantes vermelhas solitárias da mesma idade. Este movimento rápido não pode ser explicado pela velocidade de rotação inicial da estrela no seu nascimento. Poderá ser o resultado de interações passadas, como uma fusão com outra estrela ou um período de trocas de matéria com a estrela massiva que deu origem ao buraco negro.

O estudo também analisou outro sistema, o Gaia BH3, situado a apenas 2.000 anos-luz de distância. A estrela companheira deste buraco negro é pobre em elementos pesados, mas, ao contrário das expectativas, não apresenta as oscilações estelares habitualmente observadas neste tipo de astro. A observação conjunta dos movimentos em Gaia BH2 e Gaia BH3 poderá trazer novos esclarecimentos sobre a dinâmica dos sistemas binários que albergam buracos negros silenciosos.

Os cientistas planeiam continuar a monitorizar o Gaia BH2 com o satélite Gaia. O objetivo é captar mais precisamente os seus tremores de estrela, o que poderá fornecer uma confirmação definitiva de uma fusão estelar passada. Estes trabalhos abrem uma nova janela sobre a história atribulada de algumas estrelas em par com objetos compactos.

A sismologia estelar, uma janela para o coração das estrelas


Os tremores de estrela, ou oscilações estelares, são ligeiras vibrações periódicas que agitam a superfície dos astros. São provocadas por ondas de pressão e gravidade que se propagam no interior da estrela, um pouco como o som se desloca no ar. Ao medir a frequência e a amplitude destas oscilações, os astrónomos podem deduzir propriedades internas como a densidade, a temperatura e a composição química.

Esta técnica, chamada astrossismologia, funciona num princípio semelhante à sismologia terrestre. Os diferentes modos de vibração reagem às variações de estrutura no interior do astro. Ao analisar estas assinaturas, torna-se possível determinar a idade de uma estrela, o seu tamanho e até a sua fase de evolução, informações impossíveis de obter através da simples observação da sua luz.

Para o estudo de sistemas como o Gaia BH2, a astrossismologia é particularmente valiosa. Permite sondar a gigante vermelha apesar da presença perturbadora de um buraco negro companheiro. Os dados recolhidos pelo TESS oferecem um vislumbre direto dos processos que afetaram a estrela ao longo da sua vida, incluindo eventos violentos como fusões.

Este método transformou profundamente a nossa compreensão da estrutura estelar e encontra aplicações para muitos tipos de estrelas, das anãs vermelhas às gigantes. Complementa perfeitamente outras técnicas de observação e continua a ser uma ferramenta importante para elucidar a evolução de sistemas binários exóticos.

Estrelas jovens e ricas em elementos pesados, um quebra-cabeças cósmico


No modelo padrão de evolução estelar, a quantidade de elementos pesados, que os astrónomos chamam de 'metais', numa estrela está geralmente ligada à sua idade.

Uma estrela jovem mas rica em metais, como a gigante vermelha do Gaia BH2, constitui portanto uma anomalia. A sua química evoca um astro antigo, enquanto as suas pulsações indicam uma juventude relativa. Esta discordância indica fortemente que a estrela não seguiu uma evolução solitária e tranquila.

A explicação mais provável envolve uma transferência de massa ou uma fusão com outra estrela. A estrela pode ter absorvido uma grande quantidade de matéria rica em elementos pesados proveniente de um companheiro, misturando as suas composições.
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