🌋 Uma erupção vulcânica poderia estar na origem da Peste Negra na Europa?

Publicado por Cédric,
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Communications Earth & Environment
Outras LĂ­nguas: FR, EN, DE, ES
O século XIV europeu foi marcado por uma convulsão demográfica de uma amplitude inédita com a Peste Negra. Uma pesquisa interdisciplinar publicada na Communications Earth & Environment reconstrói a cadeia de causalidade, na qual um evento natural distante condicionou diretamente o curso da história humana ao criar as condições para uma transferência patogênica em larga escala.

O estudo realizado por uma equipa de historiadores e geógrafos não se limita a analisar a difusão da bactéria Yersinia pestis. Ele traça minuciosamente como uma perturbação climática súbita desregulou os sistemas agrícolas e comerciais do Mediterrâneo, forçando decisões que tiveram consequências trágicas. Esta abordagem permite compreender por que razão a pandemia atingiu com tanta violência num momento preciso, e não décadas antes ou depois.


Imagem de ilustração Pixabay


A assinatura de um vulcão esquecido no clima do século XIV


Os testemunhos de gelo recolhidos na Gronelândia e na Antártida revelam um pico de sulfato por volta do ano de 1345. A similaridade das concentrações nos dois polos indica uma grande erupção vulcânica, provavelmente situada nos trópicos. Este evento projetou para a estratosfera um véu de aerossóis que filtrou a radiação solar durante vários anos. Os anéis de crescimento das árvores europeias, particularmente sensíveis à temperatura, registam as consequências diretas deste episódio.

Os dados dendrocronológicos mostram que os verões de 1345 a 1347 foram excecionalmente frios no sul da Europa. Os anéis de crescimento estreitos, até mesmo os "anéis azuis", testemunham um importante stress fisiológico nas árvores. Paralelamente, as crónicas medievais relatam fenómenos óticos incomuns, como eclipses lunares anormalmente escuros ou um céu duradouramente enevoado. Estes testemunhos históricos corroboram perfeitamente os indícios físicos de um inverno vulcânico prolongado.

Este período de arrefecimento rápido teve um impacto imediato e severo na agricultura mediterrânica. As colheitas de cereais e videiras, dependentes de temperaturas estivais suficientes, sofreram falhas repetidas. Os solos, já fragilizados por outonos anormalmente húmidos, sofreram uma erosão acrescida. Em poucos anos, instalou-se uma situação de penúria alimentar estrutural, pondo em perigo o abastecimento das cidades densamente povoadas de Itália.

Da crise alimentar à introdução do patogénico


Confrontadas com fomes locais, as poderosas repúblicas marítimas italianas como Génova e Veneza tiveram de recorrer a importações maciças de trigo. As suas redes comerciais, já extensas, viraram-se para os celeiros do Mar Negro, sob controlo da Horda de Ouro mongol. Acordos foram celebrados na primavera de 1347 para levantar os embargos e organizar comboios marítimos de emergência. Esta reação logística, embora vital para alimentar as populações, criou um corredor direto entre uma zona onde a peste era endémica e o coração da Europa.

Os navios que regressavam da Crimeia no verão de 1347 transportavam nas suas caves muito mais do que cereais. Os investigadores sugerem que as pulgas infetadas por Yersinia pestis sobreviveram à longa viagem alimentando-se de pó de cereais e resíduos orgânicos. Este modo de transporte passivo, já documentado no início do século XX, teria permitido ao patogénico atravessar o Mar Negro e o Mediterrâneo sem necessitar de hospedeiros vivos durante toda a travessia.

A chegada destes navios aos portos italianos coincide cronologicamente com os primeiros focos humanos de peste. Veneza e Génova foram atingidas apenas algumas semanas após o desembarque das cargas. O ciclo epidemiológico pôde então começar: as pulgas infetadas contaminaram primeiro as populações de roedores urbanos, antes de passarem para o homem uma vez os seus hospedeiros primários dizimados. A infraestrutura comercial, concebida para suprir uma crise climática, tinha-se tornado o vetor de uma catástrofe sanitária.
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