O que acontece quando o Universo nos envia tanto ondas gravitacionais quanto luz provenientes do mesmo evento? Esta combinação rara intriga os astrónomos, pois poderia revelar um tipo de explosão cósmica ainda não observado. Um fenómeno recente, denominado AT2025ulz, mostra sinais tanto de uma supernova quanto de uma quilónova, confundindo assim as fronteiras entre estas categorias estabelecidas.
Por um lado, as supernovas marcam o fim espetacular das estrelas mais massivas, espalhando pelo espaço elementos como carbono ou ferro. Por outro, e muito menos frequentes, as quilónovas ocorrem quando duas estrelas de neutrões colidem. Estes remanescentes de estrelas mortas, de densidade extrema, fundem-se então e geram elementos ainda mais pesados, como ouro ou urânio, que enriquecem posteriormente o cosmos.
Representação artística de uma superquilónova hipotética. Uma estrela massiva explode em supernova, dando origem a duas estrelas de neutrões. Estas espiralam uma em direção à outra antes de se fundirem numa quilónova, produzindo ondas gravitacionais e elementos pesados como ouro. Crédito: Caltech/K. Miller e R. Hurt (IPAC)
O evento AT2025ulz foi detetado em agosto de 2025. Inicialmente apresentou um brilho vermelho intenso que se desvaneceu rapidamente, lembrando fortemente a única quilónova confirmada até hoje, a GW170817. No entanto, após alguns dias, a sua luminosidade voltou a aumentar, adotando um tom azulado e revelando a assinatura do hidrogénio, características típicas de uma supernova.
Além disso, os detetores de ondas gravitacionais LIGO e Virgo registaram um sinal proveniente da mesma região do céu (explicação no final do artigo). Os dados indicam que um dos objetos envolvidos na colisão tinha uma massa inferior à do nosso Sol, o que é invulgar para uma estrela de neutrões clássica. Esta particularidade atraiu imediatamente a atenção dos investigadores.
Esta dualidade nas observações dividiu a comunidade astronómica. Alguns pensaram tratar-se de uma supernova comum sem ligação às ondas gravitacionais. Mansi Kasliwal, autora principal de um estudo publicado na The Astrophysical Journal Letters, explica, no entanto, que o evento não se encaixava perfeitamente em nenhum dos dois modelos conhecidos, levando a considerar uma explicação híbrida.
Assim, para dar conta de uma estrela de neutrões de massa tão baixa, os teóricos propõem dois cenários. O primeiro, chamado fissão, veria uma estrela em rotação rápida explodir e dividir-se em dois pequenos remanescentes. O segundo, a fragmentação, envolveria a formação de um disco de matéria em torno da estrela em colapso, cujos aglomerados se agregariam para formar uma estrela de neutrões em miniatura.
Nesta perspetiva, se duas destas estrelas de neutrões recém-formadas espiralarem e se fundirem rapidamente, poderiam produzir uma quilónova cujo brilho seria mascarado pelos detritos da supernova inicial. Esta sequência, qualificada de superquilónova, ainda precisa de ser confirmada. Os futuros instrumentos, como o observatório Vera Rubin ou o telescópio espacial Nancy Roman, serão essenciais para detetar outros eventos similares e testar esta hipótese.
As ondas gravitacionais
As ondas gravitacionais são deformações do espaço-tempo que se propagam à velocidade da luz. São geradas por eventos cósmicos violentos, como a fusão de buracos negros ou de estrelas de neutrões. Previstas por Albert Einstein há mais de um século, a sua deteção direta só foi realizada em 2015 pelo observatório LIGO, marcando um grande avanço em astrofísica.
Estas ondulações são extremamente ténues, o que torna a sua observação muito difícil. Interferómetros como o LIGO, Virgo ou KAGRA usam lasers sobre longas distâncias para medir variações ínfimas no comprimento dos seus braços. Quando uma onda gravitacional passa, ela estica e comprime o espaço de forma impercetível, mas estes instrumentos são suficientemente sensíveis para a captar.
A deteção de ondas gravitacionais abre uma nova janela para o Universo. Ao contrário da luz, elas não são absorvidas ou desviadas pela matéria, permitindo observar fenómenos de outra forma invisíveis, como as coalescências de objetos compactos no coração de galáxias distantes. Fornecem informações complementares às obtidas pelos telescópios tradicionais.
O estudo conjunto de sinais gravitacionais e eletromagnéticos, como para o evento AT2025ulz, permite reconstituir com maior precisão a física destas explosões. Isso ajuda a compreender a natureza dos objetos envolvidos, a sua massa, rotação e os processos em jogo durante colisões cataclísmicas.