🗣️ Respirar para falar: quando o cérebro assume o controle da respiração

Publicado por Adrien,
Fonte: CNRS INSB
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A respiração é um gesto vital, tão automático que nos esquecemos dela. No entanto, para produzir a fala, a respiração deve ser modulada para sincronizar a expiração com o ritmo da conversa.

Num artigo publicado na revista Scientific Reports, cientistas, utilizando imagiologia funcional cerebral, identificaram os mecanismos cerebrais que permitem sincronizar a respiração com a produção da fala.


Imagem de ilustração Pixabay


Quando a respiração se torna linguagem


Para produzir a fala, o nosso cérebro deve transformar este mecanismo de sobrevivência numa ferramenta de comunicação, modulando a respiração para sincronizar a expiração com o ritmo da conversa. Um estudo publicado na Scientific Reports revela como o sistema nervoso central consegue esta proeza: inibe ativamente o tronco cerebral, responsável pelo ritmo respiratório automático, para alinhar a respiração com a produção da fala.

Para explorar este fenómeno, os cientistas estudaram conversas naturais através de ressonância magnética funcional (fMRI), enquanto registavam simultaneamente a respiração. Vinte e cinco voluntários, deitados num scanner, dialogaram livremente e em tempo real com um interlocutor, enquanto a sua atividade cerebral e respiração eram registadas de forma síncrona.

Esta abordagem permitiu distinguir ciclos em que a respiração servia apenas para as trocas gasosas vitais, daqueles em que se preparava para acompanhar a fala.

Um mecanismo ao serviço da comunicação


Os resultados mostram que aproximadamente 200 milissegundos antes de começar a falar, os participantes têm os pulmões cheios para preparar a expiração vocal. Nesse momento preciso, o tronco cerebral, que gera o ritmo respiratório automático, é inibido, dando lugar a um controlo voluntário.

Esta inibição envolve o córtex sensoriomotor, que recebe as informações corporais indicando que os pulmões estão prontos para expulsar o ar para falar, e o cerebelo, que coordena finamente a sincronização entre expiração e fala. Este mecanismo permite transformar um ato automático, destinado à sobrevivência, num ato voluntário envolvido na comunicação.

Esta descoberta oferece uma perspetiva inédita sobre as bases neurofisiológicas da conversa humana. Mostra que falar não é apenas um ato linguístico ou social: é também um ato biológico em que o cérebro reorganiza temporariamente uma função vital. Estes resultados abrem perspetivas para compreender melhor certos distúrbios da respiração relacionados com a fala e poderão inspirar novas abordagens para a reabilitação.
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