A solidão pode gerar consequências psicológicas profundas. Um estudo recente revela que não é tanto a solidão em si, mas a maneira como refletimos sobre ela, que influencia o risco de depressão.
Pesquisadores da Universidade de Hong Kong exploraram os mecanismos psicológicos que ligam a solidão à depressão. Seus trabalhos, publicados na
Nature Mental Health, mostram que os pensamentos repetitivos sobre o isolamento desempenham um papel central. Essas ruminações mentais amplificam o sentimento de solidão, criando um círculo vicioso que aumenta os sintomas depressivos.
O papel crucial das ruminações mentais
As ruminações, esses pensamentos negativos repetitivos, atuam como uma ponte entre a solidão e a depressão. Quanto mais uma pessoa sente uma discrepância entre suas relações sociais desejadas e reais, maior é o risco de ruminar sobre sua solidão. Essa tendência de se concentrar no isolamento reforça os sentimentos negativos, aumentando assim o risco de depressão.
O estudo foi baseado em uma amostra de 900 adultos na China, observados durante os confinamentos rigorosos relacionados à Covid-19. Os pesquisadores usaram uma análise de redes para entender como os elementos da solidão e da ruminação interagem. Eles identificaram um pensamento específico, "pensar em quão sozinho se está", como um fator-chave nesse processo.
Desarmar os pensamentos negativos para prevenir a depressão
Os resultados sugerem que as intervenções terapêuticas devem focar nas ruminações relacionadas à solidão. Ao reduzir esses pensamentos repetitivos, seria possível quebrar o ciclo solidão-ruminação-depressão. As terapias cognitivo-comportamentais (TCC) e as práticas de mindfulness podem ser particularmente eficazes para ajudar os indivíduos a interromper esses padrões mentais negativos.
Os pesquisadores destacam a importância de prevenir a depressão atuando sobre os pensamentos intrusivos. Ensinar os indivíduos a reconhecer e gerenciar suas ruminações poderia, assim, limitar os efeitos prejudiciais da solidão na saúde mental.
Uma abordagem inovadora para populações isoladas
Este estudo abre caminho para novas estratégias de ajuda a pessoas isoladas, especialmente em contextos de crise como uma pandemia. Ao direcionar as ruminações específicas à solidão, os profissionais de saúde poderiam prevenir melhor a depressão em populações vulneráveis.
Os confinamentos relacionados à Covid-19 ofereceram um contexto único para estudar esses mecanismos. Os pesquisadores esperam que suas descobertas inspirem intervenções adaptadas para reduzir a incidência de depressão em situações semelhantes.
Para ir mais longe: O que é a ruminação mental?
A ruminação mental refere-se a um processo psicológico em que uma pessoa se concentra de maneira repetitiva e intrusiva em pensamentos negativos. Esses pensamentos geralmente giram em torno de problemas, arrependimentos ou sentimentos de isolamento, sem chegar a soluções concretas.
Esse fenômeno está particularmente associado a transtornos como depressão ou ansiedade. Indivíduos que ruminam tendem a remoer eventos passados ou a antecipar cenários negativos, o que pode agravar seu estado emocional.
A ruminação difere da simples reflexão. Enquanto a reflexão visa resolver um problema, a ruminação mantém a pessoa em um ciclo de pensamentos negativos sem saída. Ela pode, assim, reforçar sentimentos como tristeza, raiva ou solidão.