Uma equipe franco-dinamarquesa anuncia ter criado o primeiro organismo terrestre capaz de resistir às condições extremas da nossa estrela. Um avanço que redefine os limites da vida.
É uma publicação que surpreende mais de um especialista em exobiologia: pesquisadores do Instituto de Biologia Extremófila de Montpellier (IBEM) e do Center for Astrobioaquatical Adaptations (CAA) de Copenhague afirmam ter modificado geneticamente tardígrados para torná-los capazes de sobreviver... na superfície do Sol.
Estes micro-organismos, já conhecidos por sua resistência impressionante ao vácuo espacial, radiações ionizantes e temperaturas próximas do zero absoluto, acabam de ultrapassar um novo marco. A equipe do Dr. Julien Labrus (IBEM) e da Prof.ª Sophie Salmo (CAA) conseguiu introduzir em seu genoma sequências de DNA de dois organismos ultra-resistentes:
- Deinococcus radiodurans, a bactéria "indestrutível" capaz de suportar doses de radiação mortais para humanos;
- Thermus aquaticus, uma arqueia termofílica que prospera em fontes termais acima de 70°C.
O resultado? Uma nova linhagem, batizada de theliograd (de tardi-hélio-grad), que teria sobrevivido a testes em laboratório simulando temperaturas de 1.500°C por vários minutos.
Testes em condições (quase) reais
Para verificar esses resultados, os cientistas colaboraram com o Síncrotron Soleil-LURE em Orsay, onde os theliograds foram expostos a um plasma reproduzindo erupções solares. Contra todas as expectativas, os organismos não apenas sobreviveram, mas mostraram sinais de atividade metabólica, graças a uma proteína recém-sintetizada: a Solarbindina.
"Esta molécula age como um escudo térmico em escala celular", explica o Dr. Labrus. "Ela encapsula as proteínas essenciais e as protege da desnaturação, como uma miniatura de traje espacial."
Rumo a uma colonização... solar?
Mas a equipe não parou por aí. Em colaboração com o Prof. Éric Sparus do Marine Genomics Institute, eles introduziram genes de Lophius piscatorius, o tamboril abissal, conhecido por sua bioluminescência.
"A ideia era permitir que os theliograds se comunicassem entre si no ambiente caótico do Sol", esclarece o Prof. Sparus. "Ao emitir flashes de luz coordenados, eles poderiam teoricamente formar redes de troca de informações... mesmo a 5.500°C."
Curiosamente, o financiamento desta pesquisa não veio apenas de agências espaciais. O Observatório Oceanográfico de Thau, especializado no estudo de moluscos, contribuiu com 30% do orçamento.
"Trabalhamos com materiais bioinspirados para proteger sondas espaciais", justifica seu porta-voz. "A concha de vieira, com sua estrutura nacarada, é 3.000 vezes mais resistente que o Kevlar. Ao combiná-la com grafeno, criamos um escudo térmico revolucionário."
Assim, os primeiros theliograds poderão ser enviados ao Sol já em 2027, chegando à nossa estrela em 2030, a bordo de uma sonda... revestida de conchas.
O Prof. Sparus conclui: "Se tudo correr bem, em 5 anos, nossos tardígrados dançarão salsa nas protuberâncias solares. Bem, 'dançar'... serão vaporizados em 0,02 segundo, mas teoricamente, terão sobrevivido."