Teríamos nós nos enganado sobre a origem da escrita alfabética? ✍️

Publicado por Cédric,
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Johns Hopkins University
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Uma recente descoberta arqueológica pode revolucionar nossa compreensão sobre a origem da escrita alfabética.

Cilindros de argila, datados de 2400 a.C., apresentam inscrições que possivelmente representam os primeiros vestígios desse alfabeto, muito mais antigo do que os conhecidos até agora. Essa descoberta coloca em dúvida as teorias predominantes sobre o surgimento dessa forma de escrita.


Os sistemas de escrita sempre foram um aspecto fundamental das civilizações humanas, permitindo a transmissão de informações por longos períodos. As primeiras formas, como os hieróglifos e o cuneiforme, eram complexas, representando palavras ou ideias por meio de muitos símbolos. No entanto, o alfabeto, que decompõe as palavras em sons distintos, proporcionou uma grande simplificação.

Tradicionalmente, a origem da escrita alfabética é atribuída aos povos semitas do Sinai, por volta de 1900 a.C. Este alfabeto, chamado de "proto-sinaítico", teria se originado a partir dos hieróglifos egípcios. Mas esta descoberta na Síria parece indicar que experimentações alfabéticas ocorreram muito antes, e em uma região geográfica diferente do Egito.

Glenn Schwartz, o arqueólogo responsável pela descoberta, realizou escavações em Tell Umm-el Marra, um sítio sírio localizado entre Alepo e o Eufrates. A equipe encontrou uma tumba datada da Idade do Bronze, contendo objetos valiosos, mas também quatro cilindros de argila gravados com símbolos. Essas inscrições parecem ser letras alfabéticas, embora seu significado exato ainda seja desconhecido.

Os cilindros, com um tamanho semelhante ao de um dedo humano, eram perfurados, sugerindo que estivessem presos a objetos para servir como etiquetas. Os pesquisadores acreditam que eles possam ter sido utilizados para identificar o conteúdo de recipientes ou bens pertencentes a um proprietário abastado. A análise por carbono 14 permitiu datar esses objetos por volta de -2400.

O que torna esta descoberta particularmente interessante é o fato de que ela antecede em 500 anos os primeiros alfabetos conhecidos. Isso desafia a cronologia estabelecida, que posicionava a origem do alfabeto no Egito. Glenn Schwartz e sua equipe ressaltam que esses cilindros demonstram que formas de escrita alfabética existiram muito antes do período tradicionalmente relacionado ao Egito Antigo.


No entanto, alguns especialistas permanecem cautelosos quanto à interpretação desses símbolos. A semelhança com letras do alfabeto pode ser apenas uma coincidência, devido ao pequeno número de inscrições encontradas. Porém, outros pesquisadores argumentam que a simplicidade dos símbolos lembra fortemente o alfabeto.

Essa descoberta sugere, portanto, uma origem alternativa para o alfabeto, possivelmente proveniente de sociedades do Oriente Próximo. As trocas comerciais entre as diferentes civilizações da região, especialmente entre egípcios e sírios, podem ter facilitado o surgimento de escritas alfabéticas em várias zonas geográficas.

Ainda há muito a ser descoberto sobre esse tema, mas essa descoberta abre novas perspectivas sobre a história da escrita e seus primeiros desenvolvimentos. Outras escavações poderão confirmar essa hipótese e nos ensinar mais sobre os primeiros sistemas de comunicação escrita.

O que é o alfabeto proto-sinaítico?


O alfabeto proto-sinaítico é considerado o alfabeto mais antigo conhecido, datando de cerca de 1900 antes da nossa era. Ele tem suas origens nos hieróglifos egípcios, mas ao contrário deles, representa sons individuais, chamados fonemas, em vez de ideias ou palavras completas. Era utilizado pelos antigos habitantes do Sinai, na região situada entre o Egito e a Palestina.

O sistema proto-sinaítico marcou uma importante transição na escrita. Antes dele, as civilizações utilizavam sistemas logográficos como os hieróglifos egípcios ou o cuneiforme mesopotâmico. Esses sistemas incluíam centenas de símbolos que representavam ideias ou palavras, tornando a escrita complexa e acessível apenas às elites. O alfabeto, por outro lado, simplificava a escrita e a tornava mais acessível.

Este sistema alfabético teve uma influência significativa nas civilizações vizinhas. Ele evoluiu para se tornar o alfabeto fenício, que por sua vez influenciou os alfabetos grego e latino. Isso permitiu a disseminação da escrita para um público mais amplo, além das esferas reais e religiosas, desempenhando um papel crucial na história da comunicação escrita.
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