👽 Um casulo para a vida extraterrestre? Encélado emite calor nos dois polos!

Publicado por Adrien,
Fonte: Science Advances
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A lua gelada de Saturno, Encélado, continua a revelar surpresas que revolucionam nossa compreensão dos mundos oceânicos. Um novo estudo acaba de mostrar que esta pequena lua liberta calor a partir dos seus dois polos, e não apenas do seu polo sul como se pensava até agora.

Os cientistas analisaram dados infravermelhos coletados pela sonda Cassini durante o inverno polar norte de 2005 e o verão de 2015. Comparando essas observações, descobriram que a superfície do polo norte estava cerca de 7 graus Kelvin mais quente do que o esperado. Esta diferença só pode ser explicada por uma fonte de calor interna que sobe do oceano subterrâneo através da crosta gelada. O fluxo térmico detectado equivale a dois terços do calor que escapa através da crosta continental terrestre.


Representação da atividade hidrotermal em Encélado baseada em dados da missão Cassini-Huygens
Crédito: ESA

Esta descoberta revoluciona nossa visão do equilíbrio térmico de Encélado. Adicionando o calor do polo norte ao já conhecido do polo sul, a perda energética total atinge cerca de 54 gigawatts. Este valor corresponde perfeitamente às previsões do aquecimento por efeito de maré, onde a atração gravitacional de Saturno deforma a lua e gera calor por fricção interna. Este equilíbrio sugere que o oceano subterrâneo poderia permanecer líquido durante períodos geológicos extremamente longos.

O estudo publicado na Science Advances foi conduzido por uma equipe internacional incluindo pesquisadores da Universidade de Oxford e do Southwest Research Institute. Os cientistas explicam que esta estabilidade térmica é essencial para a manutenção de um ambiente propício à vida. O oceano global de Encélado contém água líquida, calor e elementos químicos essenciais como o fósforo, criando condições semelhantes às das fontes hidrotermais terrestres onde a vida prospera.

Os dados térmicos também permitiram estimar a espessura da crosta gelada: entre 20 e 23 quilômetros no polo norte e 25 a 28 quilômetros em média em toda a lua. Estas informações são preciosas para futuras missões que poderiam tentar perfurar este gelo para alcançar o oceano oculto. Os pesquisadores destacam que estas descobertas só foram possíveis graças às missões prolongadas da Cassini, mostrando a importância das observações de longo prazo.


Estudo do fluxo de calor global de Encélado mostrando o equilíbrio entre a energia perdida (polos norte e sul) e a energia produzida por efeito de maré
Crédito: University of Oxford/NASA/JPL-CalTech/Space Science Institute


O efeito de maré, motor térmico das luas geladas


O efeito de maré é um fenômeno físico onde a atração gravitacional de um corpo celeste deforma outro corpo em órbita ao seu redor. No caso de Encélado, a imensa gravidade de Saturno estica e comprime a luna de maneira cíclica durante sua revolução.

Esta deformação permanente gera fricções internas dentro das rochas e do gelo, produzindo calor por dissipação de energia. Este processo é semelhante ao que acontece quando você dobra rapidamente um clipe de papel até que ele aqueça, mas em escala planetária.

A intensidade deste aquecimento depende de vários fatores: a distância entre os dois corpos, a excentricidade da órbita e a composição interna da lua. Quanto mais elíptica for a órbita e mais deformável for a lua, maior será o efeito de maré. Este mecanismo explica porque algumas luas geladas como Encélado e Europa (ao redor de Júpiter) mantêm oceanos líquidos apesar de sua distância do Sol.

Na Terra, o efeito de maré principalmente visível concerne os oceanos, mas nas luas sem atmosfera, é a deformação da crosta em si que produz a maior parte do calor. Este processo pode manter temperaturas favoráveis à vida durante bilhões de anos.

Os mundos oceânicos do Sistema Solar


Os mundos oceânicos são corpos celestes que abrigam imensos reservatórios de água líquida sob sua superfície congelada. Encélado não é o único exemplo no nosso Sistema Solar: Europa (lua de Júpiter), Titã e Ganimedes possuem igualmente oceanos subterrâneos.

Estes oceanos são geralmente mantidos líquidos por uma combinação de aquecimento radioativo natural e efeito de maré. A espessa camada de gelo na superfície atua como um isolante térmico, impedindo que a água congele completamente. A pressão exercida por este gelo pode também baixar o ponto de fusão da água.

A composição destes oceanos varia conforme os mundos. O de Encélado contém sais dissolvidos e compostos orgânicos, enquanto o de Europa seria mais rico em sulfatos. Os penachos observados em Encélado permitem analisar diretamente a composição do seu oceano sem ter que perfurar o gelo.

A descoberta destes mundos oceânicos mudou radicalmente nossa abordagem na busca por vida extraterrestre. Em vez de procurar apenas planetas na zona habitável da sua estrela, os cientistas exploram agora estes ambientes isolados mas potencialmente hospitaleiros.
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