Pesquisadores identificaram vestígios de vida fóssil em depósitos de gesso terrestres, abrindo um novo caminho para a busca de bioassinaturas em Marte. Essa descoberta, realizada graças a um instrumento de ponta, pode impactar as futuras missões de exploração do Planeta Vermelho.
Imagem de ilustração Pixabay
Uma equipe internacional, liderada pela Universidade de Berna, utilizou um espectrômetro de massa miniaturizado para detectar micro-organismos fossilizados em depósitos de gesso na Argélia. Esses depósitos, formados há milhões de anos, se assemelham aos observados em Marte, oferecendo um terreno de estudo ideal para simular as condições marcianas. Os resultados, publicados na Frontiers in Astronomy and Space Sciences, sugerem que instrumentos similares poderiam ser usados para buscar vestígios de vida passada em Marte.
O gesso, uma armadilha promissora para fósseis
O gesso, um mineral formado pela evaporação da água, possui uma capacidade particular de preservar vestígios de vida. Na Terra, os pesquisadores descobriram filamentos microbianos fossilizados em depósitos datados da crise de salinidade messiniana, um período em que o Mediterrâneo quase secou. Essas estruturas, associadas a minerais como a dolomita e a argila, indicam uma atividade biológica passada.
Em Marte, depósitos de gesso similares poderiam abrigar bioassinaturas datadas da época em que o planeta era úmido e quente. Os pesquisadores estimam que esses minerais, formados rapidamente, podem ter aprisionado micro-organismos antes de sua decomposição, preservando assim indícios de vida antiga. Essa hipótese reforça o interesse científico das futuras missões.
A - Facies cristalinos do gesso e manipulação das amostras. B - Cristais de selenita gêmeos e pequenos cristais mostrando o ângulo reentrante escuro (linhas pretas tracejadas). C - Lâmina delgada petrográfica do ângulo reentrante do cristal de selenita geminada marcado em azul em A, mostrando lâminas muito turvas (vTL), turvas (TL) e límpidas (LL). D - Pequena lâmina delgada de lâminas turvas fixada no suporte LIMS com uma fita de cobre. Amostra coberta com ouro no suporte LIMS.
Um instrumento pronto para a exploração marciana
O espectrômetro de massa LIMS, desenvolvido na Universidade de Berna, demonstrou sua eficácia para detectar bioassinaturas em amostras terrestres. Esse instrumento, projetado para funcionar no espaço, poderia ser integrado a rovers ou aterrissadores marcianos. Ele permitiria analisar in situ a composição química das rochas, buscando vestígios de vida fossilizada. Sua miniaturização e precisão o tornam uma ferramenta essencial para as futuras missões de exploração.
Os pesquisadores testaram essa tecnologia em depósitos de gesso na Argélia, um sítio geológico análogo aos de Marte. Os resultados são encorajadores: o LIMS identificou filamentos microbianos e minerais associados à vida, como a dolomita e a argila. Esses elementos, frequentemente ligados à atividade biológica, reforçam a hipótese de que condições similares poderiam existir em Marte. Esse sucesso valida o método e abre caminho para sua utilização em ambientes extraterrestres.
Além de sua capacidade de detectar bioassinaturas, o LIMS foi projetado para resistir às condições extremas do espaço. Sua integração em uma missão marciana permitiria uma análise rápida e precisa das amostras, sem a necessidade de retorno à Terra. Esse avanço tecnológico representa um passo importante na busca por evidências de vida passada em Marte, ao mesmo tempo em que reduz os custos e os riscos das missões espaciais.
Para ir mais longe: O que é uma bioassinatura?
Uma bioassinatura é um vestígio químico, físico ou morfológico deixado por organismos vivos. Ela pode assumir a forma de moléculas orgânicas, estruturas microscópicas ou minerais específicos que indicam a presença passada ou atual de vida. Em Marte, os cientistas buscam esses indícios em rochas, solos ou depósitos minerais, como o gesso, que podem ter preservado vestígios de vida antiga.
As bioassinaturas não se limitam a fósseis visíveis. Elas também incluem compostos químicos, como aminoácidos ou lipídios, que são frequentemente associados a processos biológicos. Por exemplo, a presença de certas moléculas orgânicas ou de minerais como a dolomita, formados na presença de micro-organismos, pode constituir uma evidência indireta de vida. No entanto, é importante distinguir esses sinais de origem biológica daqueles produzidos por processos abióticos.
A busca por bioassinaturas em Marte se baseia em instrumentos capazes de analisar a composição química e a estrutura das rochas em escala microscópica. Ferramentas como o espectrômetro de massa LIMS permitem detectar esses vestígios com grande precisão. No entanto, a confirmação da vida frequentemente requer vários métodos independentes para evitar falsos positivos, um desafio importante na exploração espacial.