Nossos companheiros caninos podem compartilhar conosco certas fragilidades comportamentais. Um estudo recente investigou as relações que alguns cães mantêm com seus brinquedos, revelando semelhanças perturbadoras com mecanismos observados em humanos.
Os pesquisadores identificaram os sintomas típicos das dependências comportamentais humanas a partir da literatura científica existente. Essas manifestações incluem desejos irresistíveis e uma dificuldade marcante em interromper ou controlar um comportamento particular. A equipe comparou esses critérios com as atitudes de 105 cães, todos descritos por seus donos como particularmente motivados pelo jogo com brinquedos. Cada animal pôde escolher seu brinquedo preferido no início dos testes.
Imagem ilustrativa Pixabay
A amostra canina apresentava uma diversidade interessante com idades variando de 12 meses a 10 anos. As raças mais representadas foram o Malinois (18 indivíduos), o border collie (9 indivíduos) e o Labrador retriever (9 indivíduos). Os cientistas completaram suas observações com questionários detalhados sobre os comportamentos diários dos cães em relação aos seus brinquedos, permitindo uma análise aprofundada dos hábitos de jogo.
Os resultados evidenciaram que 33 cães manifestavam comportamentos que evocavam uma dependência. Esses animais apresentavam uma fixação excessiva em seu brinquedo, mostrando desinteresse por alternativas como comida ou interações com seu dono. Quando seu brinquedo se tornava inacessível, eles dedicavam esforços persistentes para recuperá-lo e levavam mais de 15 minutos para recuperar a calma após a remoção de todos os brinquedos.
Os autores destacam que essas observações abrem perspectivas importantes para a compreensão do bem-estar animal. Eles indicam que investigações adicionais são necessárias para determinar as causas profundas desse engajamento excessivo com brinquedos e avaliar suas consequências potenciais na qualidade de vida dos cães envolvidos.
Dependências comportamentais em animais
As dependências comportamentais não se limitam à espécie humana. Em animais domésticos, esses distúrbios se manifestam por comportamentos repetitivos e compulsivos que perturbam o funcionamento normal do indivíduo. Ao contrário das dependências relacionadas a substâncias, essas dependências se baseiam em atividades que ativam os circuitos de recompensa do cérebro.
Os mecanismos neurológicos subjacentes envolvem o sistema dopaminérgico, responsável pela sensação de prazer. Quando um comportamento proporciona uma satisfação intensa, o cérebro pode vir a buscá-lo de maneira excessiva, em detrimento de outras atividades essenciais. Essa busca compulsiva persiste mesmo quando o comportamento não traz mais benefício aparente.
No cão, essas manifestações podem assumir diversas formas: jogo obsessivo com objetos, perseguição incessante da cauda ou lambedura excessiva. O reconhecimento desses distúrbios permite um melhor cuidado dos animais envolvidos e uma melhoria em sua qualidade de vida.
Os donos podem observar alguns sinais de alerta como a dificuldade em desviar a atenção do animal de sua atividade favorita, ou sua agitação quando impedido. Uma intervenção precoce pode ajudar a reequilibrar esses comportamentos problemáticos.