Cientistas descobriram o gene da linguagem humana e o transferiram para ratos 🗣️

Publicado por Cédric,
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Nature Communications
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Uma mutação genética, exclusiva dos humanos, pode explicar o surgimento da fala. Pesquisadores descobriram que a inserção dessa variante em ratos altera suas vocalizações, abrindo um novo caminho para entender as origens da linguagem.

A linguagem é uma característica típica da espécie humana, mas sua origem ainda não é totalmente compreendida. Um estudo recente, publicado na Nature Communications, explora o papel de um gene chamado NOVA1. Esse gene, presente em muitas espécies, possui uma variante única nos humanos, que surgiu há aproximadamente 250.000 a 500.000 anos. Essa mutação, embora pequena, pode ter desempenhado um papel crucial no desenvolvimento da fala.



NOVA1: um gene com múltiplas implicações


NOVA1 é um gene essencial para o desenvolvimento do cérebro. Ele contribui para a formação e o funcionamento dos neurônios. Ele codifica uma proteína que regula o splicing alternativo, um mecanismo que permite que um mesmo gene produza várias proteínas. Esse processo é essencial para a diversidade das funções celulares, especialmente no sistema nervoso.

Nos humanos, uma única modificação de aminoácido distingue a versão do NOVA1 da encontrada em outras espécies, incluindo neandertais e denisovanos. Essa mutação, embora mínima, pode ter implicações significativas na evolução da nossa espécie.

Para estudar o efeito dessa variante humana, os pesquisadores usaram a tecnologia CRISPR para substituir a versão do NOVA1 presente em ratos pela versão humana. Os ratos geneticamente modificados mostraram mudanças significativas em suas vocalizações. Os filhotes emitiram gritos mais agudos e variados ao chamar suas mães, enquanto os machos adultos produziram sequências sonoras mais complexas durante o cortejo. Essas alterações sugerem que a variante humana do NOVA1 influencia os circuitos neurais envolvidos na comunicação.

Uma peça do quebra-cabeça da evolução da linguagem


A descoberta do papel potencial do NOVA1 no surgimento da fala é um avanço significativo, mas é importante lembrar que a linguagem humana é uma capacidade resultante de uma longa evolução. Embora o NOVA1 traga novos insights sobre os mecanismos genéticos envolvidos, ele é apenas uma peça de um quebra-cabeça muito maior. O surgimento da fala é provavelmente o resultado de uma combinação de fatores genéticos, neurológicos, anatômicos e ambientais que se influenciaram mutuamente ao longo do tempo.

Entre outras peças desse quebra-cabeça, o gene FOXP2, frequentemente chamado de "gene da linguagem", ocupa um lugar de destaque. Identificado há mais de vinte anos, o FOXP2 é essencial para o desenvolvimento das áreas cerebrais envolvidas na fala e na linguagem. Mutações nesse gene podem causar graves distúrbios da fala. No entanto, ao contrário do NOVA1, o FOXP2 não é exclusivo dos humanos: ele está presente em outras espécies, incluindo nossos parentes neandertais. Isso sugere que o FOXP2 desempenha um papel mais geral na comunicação e que sua versão humana foi adaptada para atender às necessidades específicas da linguagem articulada.

Além dos genes, a evolução da anatomia do nosso aparelho vocal também foi determinante. A descida da laringe, por exemplo, criou um espaço de ressonância maior, permitindo a produção de uma gama mais ampla de sons. A forma e a mobilidade da nossa língua, assim como o desenvolvimento do nosso sistema nervoso, também contribuíram para nossa capacidade de articular sons e organizá-los em palavras e frases. Por fim, não podemos esquecer a influência do ambiente social e cultural: a linguagem é, acima de tudo, uma ferramenta de comunicação, transmitida e enriquecida por nossas interações com os outros.

Assim, embora a descoberta do NOVA1 represente um avanço promissor, ela não deve obscurecer a especificidade da linguagem humana. Muitas questões permanecem em aberto e exigirão novas pesquisas. O estudo dos genes, da anatomia, do desenvolvimento cerebral e das interações sociais, combinado com abordagens interdisciplinares como a paleontologia e a arqueologia, nos permitirá reconstruir gradualmente a história do surgimento da fala, essa capacidade única que nos define como seres humanos.
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