Como esse antigo povo conseguiu pintar um animal extinto há 200 milhões de anos?

Publicado por Cédric,
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: PLOS One
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Uma pintura enigmática de 200 anos parece revelar um animal extinto há milhões de anos. Uma conexão inesperada entre arte e paleontologia pode reescrever a história das descobertas científicas.

O povo San, nativo da África Austral, teria integrado criaturas fossilizadas da bacia do Karoo em suas obras. Essa hipótese está agora no centro de muitas especulações.


Interpretação do animal com presas no painel da Serpente Cornoada e seus traços tipo dicinodonte.
A, Foto do animal com presas do painel da Serpente Cornoada.
B, Desenho interpretativo de sua cabeça.
C, Crânio de um Lystrosaurus (14-03-2024, Reserva Natural de Oviston) mostrando as presas proeminentes, fotografado in situ no momento de sua descoberta, antes da escavação, e sem preparação.
D, Esqueleto completo de um Lystrosaurus (BP/1/9100, Reserva Natural de Oviston) com sua coluna vertebral curvada em uma "pose de morte" opisotônica, ex situ, preparado.
E, Pé "mumificado" de um Lystrosaurus (28-08-2022, Fairydale, Distrito de Bethulie) mostrando o aspecto verrugoso de sua pele preservada, ex situ, sem preparação.

Na África do Sul, a parede do "painel da Serpente Cornoada" abriga uma pintura intrigante de um animal desconhecido. Com suas presas curvadas, ele poderia remeter a uma morsa, mas essa hipótese foi rapidamente descartada, já que esse animal nunca viveu nessa região. Um tigre-dentes-de-sabre também foi excluído, pois nenhum fóssil desse animal foi identificado nas proximidades.

De acordo com os pesquisadores, a pintura lembra estranhamente um dicinodonte, um réptil mamaliano extinto. Fósseis desse animal são, de fato, onipresentes na região do Karoo. Essas criaturas pré-históricas, que viveram antes mesmo dos dinossauros, são frequentemente encontradas na superfície graças à erosão.

Julien Benoit, pesquisador da Universidade de Witwatersrand, sugere que esses fósseis teriam inspirado a obra rupestre do povo San. Os San, caçadores-coletores, costumavam integrar o ambiente ao seu redor em sua arte. Os fósseis encontrados no local poderiam ter sido vistos como os restos de animais reais, dando origem a representações precisas. Essa prática é totalmente incomum, pois essa comunidade geralmente representava o que estava ao seu redor, e não representações imaginárias baseadas em fósseis.

Segundo Benoit, os San não criavam animais puramente imaginários. Sua arte, enraizada na realidade, exclui qualquer interpretação fantasiosa do animal representado.

Se essa hipótese for confirmada, isso significaria que os San, na verdade, descobriram essas criaturas fósseis cerca de uma década antes dos cientistas ocidentais. Uma descoberta que mudaria nossa visão da história científica.

O que é um dicinodonte?


Os dicinodontes são répteis mamalianos herbívoros que viveram há cerca de 265 a 200 milhões de anos. Eles pertencem ao grupo dos terapsídeos, um conjunto de criaturas que evoluíram para os mamíferos. O nome deles significa "dois dentes de cachorro", em referência às suas grandes presas curvadas.

Essas criaturas, que viveram antes do aparecimento dos dinossauros, eram reconhecíveis por seu bico semelhante ao de uma tartaruga e por suas presas comparáveis às de uma morsa. Os dicinodontes se extinguiram muito antes de os primeiros humanos aparecerem, mas seus fósseis, abundantes em regiões como a bacia do Karoo, na África do Sul, continuam essenciais para os paleontólogos.
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