Os pesquisadores analisaram as experiências de treinadores principais de equipes esportivas universitárias canadenses que estavam no cargo há pelo menos 15 anos e tinham obtido muito sucesso, inclusive conquistando campeonatos, mas depois viveram uma temporada mais difícil.
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A equipe de pesquisa realizou assim entrevistas individuais exaustivas com sete treinadores (duas mulheres e cinco homens), durante as quais estes discutiram as estratégias implementadas para recolocar sua equipe nos trilhos.
Introspecção e cultura de equipe: dois fatores-chave
"Os treinadores apresentaram todos razões diferentes para explicar seu fracasso e também todos empreenderam uma reflexão pessoal que lhes permitiu encontrar meios para restabelecer a cultura de equipe", explicou o professor Gordon Bloom, diretor do Departamento de Cinesiologia e Educação Física da Universidade McGill e coautor do estudo.
Todos os participantes tinham de fato recuperado seu nível de excelência anterior durante as duas temporadas que se seguiram a esse período difícil.
"Mesmo que fizessem parte dos treinadores mais bem-sucedidos do país, eles tinham realmente sede de conhecimentos e se perguntavam: 'O que devo melhorar? Onde posso encontrar essas informações? Como posso aprender?'. Eles não se contentavam em dizer: 'Bem, tive sucesso nos últimos cinco anos, por que deveria mudar alguma coisa agora?'", especificou o professor Bloom.
Muitos participantes mencionaram ter consultado os atletas que supervisionavam para melhor compreender as causas de seu insucesso e encontrar soluções. Por vezes, reconstruir o espírito de equipe também exigiu a exclusão de atletas muito talentosos, mas com comportamento perturbador, acrescentou Gordon Bloom.
Segundo este estudo, estratégias de reconstrução como o envolvimento da equipe na criação de blocos de tempo e ferramentas que permitam aos treinadores praticar a autorreflexão durante a temporada, ou ainda a criação de grupos de liderança entre os atletas para facilitar a comunicação e o compartilhamento de uma visão comum, podem favorecer o sucesso a longo prazo.
Coragem e liderança
A equipe de pesquisa qualificou de coragem a vontade dos participantes de aprender com seus fracassos. Ela também especificou que este conceito foi negligenciado na literatura sobre coaching, onde o foco estava geralmente em outras características, como a autoconfiança.
"Os treinadores, especialmente os de alto nível, são considerados salvadores, indivíduos de certa forma mágicos que têm sempre as respostas, são excepcionais em todos os aspectos e não conhecem o fracasso", sustenta Gordon Bloom.
Neste contexto de forte pressão, pode ser difícil admitir seus erros e empenhar-se em corrigi-los, acrescenta ele.
"Estes treinadores não 'devem' falar assim. Se o fazem, supõe-se que a equipe vai falhar. É preciso muita coragem para dizer: 'Bem, eu não estava realmente no meu melhor desta vez, e comprometo-me a melhorar'".
Isto pode nos ensinar algo sobre a liderança eficaz em outros domínios?
O professor está convencido disso.
"Se você trabalha numa empresa ou em qualquer outro ambiente onde exerce um papel de liderança, haverá certamente momentos em que não estará à altura. Se quiser voltar ao topo, terá que agir como estes treinadores: fazer introspecção, tirar lições, envolver os outros no processo e estar disposto a mudar", declarou ele.