Há 14.300 anos, uma tempestade solar de intensidade sem precedentes atingiu a Terra. Esta descoberta, resultante da análise de dados de radiocarbono, lança uma nova luz sobre a nossa compreensão dos eventos solares extremos.
Uma equipa da Universidade de Oulu, na Finlândia, desenvolveu um modelo inovador para interpretar dados de radiocarbono em condições glaciares. Os seus resultados revelam uma tempestade solar 500 vezes mais poderosa do que a de 2003, conhecida como tempestade solar do Halloween.
As tempestades solares perturbam o campo magnético terrestre e injetam partículas carregadas na atmosfera. Estas partículas aumentam os níveis de carbono 14, um isótopo radioativo utilizado para datar materiais orgânicos. Um pico significativo de carbono 14 foi detetado nos anéis de árvores fossilizadas, revelando a ocorrência deste evento maior.
O estudo situa esta tempestade solar entre janeiro e abril do ano -12350, no final do último período glacial. Os caçadores de mamutes na Europa provavelmente testemunharam auroras boreais espetaculares, consequências diretas deste evento.
Comparada com as outras cinco tempestades solares identificadas através dos anéis das árvores, esta destaca-se pela sua intensidade. Depositou cerca de 18% a mais de partículas carregadas na atmosfera do que a tempestade do ano 775, a mais poderosa até então conhecida.
Uma ejeção de massa coronal observada pelo telescópio espacial STEREO-A da NASA em julho de 2023.
Crédito: NASA/STEREO-A/SECCHI
Uma tempestade desta magnitude hoje poderia causar grandes perturbações nos satélites, redes elétricas e sistemas de comunicação. Eventos recentes, como a tempestade de Gannon em 2024, mostram a vulnerabilidade das nossas infraestruturas face aos caprichos do Sol.
Esta pesquisa, publicada na
Earth and Planetary Sciences Letter, abre novas perspetivas para o estudo das tempestades solares extremas e o seu impacto no clima e nas civilizações passadas. Também destaca a importância de preparar os nossos sistemas tecnológicos para enfrentar tais eventos.
Como é que as tempestades solares afetam o carbono 14?
As tempestades solares enviam fluxos de partículas carregadas para a Terra. Estas partículas interagem com o azoto na atmosfera, produzindo carbono 14, um isótopo radioativo.
O carbono 14 é então absorvido por organismos vivos, incluindo árvores. Ao medir as concentrações de carbono 14 nos anéis das árvores, os cientistas podem identificar picos correspondentes a tempestades solares passadas.
Este método permite datar com precisão estes eventos e avaliar a sua intensidade. Oferece assim uma janela única para a história das interações entre o Sol e a Terra.
Por que é que as tempestades solares são uma ameaça para a tecnologia moderna?
As tempestades solares geram correntes geomagnéticas induzidas que podem danificar transformadores elétricos. Estas correntes perturbam o funcionamento das redes elétricas, potencialmente em vastas regiões.
Os satélites em órbita também são vulneráveis. As partículas carregadas podem danificar os seus componentes eletrónicos e alterar a sua trajetória ao modificar a densidade da atmosfera.
Por fim, os sistemas de navegação e comunicação, incluindo GPS e rádios, podem ser gravemente afetados. Isto sublinha a necessidade de desenvolver tecnologias mais resilientes face aos caprichos do Sol.