O enigma da vida no Universo enriquece-se hoje com uma nova abordagem. Baseando-se em simulações cosmológicas, astrofísicos da Universidade de Durham desenvolveram um modelo que permite avaliar as chances de surgimento de uma vida inteligente em função dos parâmetros fundamentais do Universo, como a densidade de energia escura.
Impacto da densidade de energia escura na formação de estrelas em diversas simulações cosmológicas. Crédito: Oscar Veenema
A energia escura, força misteriosa responsável pela expansão acelerada do Universo, representa mais de dois terços deste. Sua influência na formação de estrelas e, consequentemente, nas condições favoráveis à vida, é o foco deste estudo. Diferentemente da equação de Drake, famosa ferramenta para estimar o número de civilizações extraterrestres detectáveis em nossa galáxia, este modelo explora as probabilidades relativas da existência de observadores em diferentes universos hipotéticos.
Os pesquisadores analisaram a quantidade de matéria ordinária transformada em estrelas em universos simulados com densidades variadas de energia escura. Em um universo otimizado para a formação de estrelas, cerca de 27% da matéria ordinária é convertida em estrelas, contra apenas 23% em nosso Universo. Isso indica que não habitamos a configuração cósmica mais propícia ao aparecimento da vida.
O Dr. Daniele Sorini, que lidera esta pesquisa, explica que o estudo permite entender melhor por que nosso Universo possui seus parâmetros particulares. Ele também destaca que densidades de energia escura muito mais elevadas ainda seriam compatíveis com o surgimento da vida, colocando em questão a ideia de que nosso Universo seja particularmente privilegiado.
A energia escura atua como um equilíbrio delicado, acelerando a expansão do Universo enquanto permite que a gravidade estruture a matéria em galáxias e estrelas. Para que a vida possa prosperar, essas estruturas precisam permanecer estáveis por bilhões de anos, permitindo o tempo necessário para que processos biológicos complexos surjam.
Sistemas estelares triplos como Alpha Centauri, suscetíveis de abrigar planetas habitáveis. Crédito: NASA, ESA, G. Duchene
O estudo mostra que a densidade ótima de energia escura para favorecer a vida resulta de uma interação fina entre os processos de formação estelar e a evolução das estruturas em larga escala do Universo. Esses trabalhos abrem caminho para explorações mais aprofundadas sobre a questão da vida em universos hipotéticos.
De acordo com o coautor, o professor Lucas Lombriser da Universidade de Genebra, esta abordagem também pode permitir reconsiderar questões fundamentais sobre nosso próprio Universo. A aplicação deste modelo poderia assim revolucionar nossa compreensão das condições necessárias para a vida.
Inspirada na equação de Drake, esta metodologia conecta a taxa de formação estelar a parâmetros fundamentais como a densidade de energia escura. Diferentemente de sua predecessora, ela não visa quantificar precisamente o número de civilizações, mas avaliar a probabilidade relativa de surgimento da vida em diferentes contextos cosmológicos.