Pesquisadores chineses iluminaram um fenômeno surpreendente de nossa galáxia: o disco espiral da Via Láctea sofre uma precessão retrógrada, influenciada por uma imensa massa de matéria escura formando um halo invisível. Este comportamento intrigante abre novas perspectivas sobre a dinâmica galáctica.
Interpretação artística do disco deformado da Via Láctea, rodeado por um halo de matéria escura ligeiramente achatado. Crédito: Kaiyuan Hou e Zhanxun Dong (School of Design, Shanghai Jiao Tong University)
Quase um terço das galáxias espirais apresentam uma deformação distinta em sua estrutura de disco. Essa deformação, frequentemente causada por colisões galácticas passadas, pode também resultar de interações com galáxias satélites, do campo magnético intergaláctico e da entrada de vastas nuvens de gás. No entanto, para a Via Láctea, o principal fator de manutenção dessa deformação é o halo de matéria escura.
Esse fenômeno de deformação não é estático. Ele sofre uma precessão, ou seja, uma mudança de alinhamento em relação ao eixo de rotação da galáxia, semelhante ao movimento de um pião em rotação. A medição precisa dessa precessão tem sido um desafio, com métodos anteriores baseando-se em estrelas gigantes cujos movimentos verticais mostravam-se imprecisos.
Astrônomos liderados por Yang Huang da Academia Chinesa de Ciências utilizaram estrelas variáveis Cefeidas como novos rastreadores para medir essa precessão com uma precisão sem precedentes. As cefeidas, estrelas massivas e pulsantes, oferecem uma medida precisa de sua luminosidade intrínseca, permitindo assim uma cartografia detalhada da deformação.
Graças aos dados do satélite Gaia da Agência Espacial Europeia, a equipe de Huang identificou uma amostra de 2.613 cefeidas de diferentes idades. Agrupando essas estrelas por faixas etárias e mapeando-as, eles puderam observar a evolução da deformação do disco galáctico ao longo dos últimos 200 milhões de anos, descobrindo assim uma precessão retrógrada.
A taxa de precessão descoberta é de 0,12 grau por milhão de anos, diminuindo com a distância do centro galáctico, o que pode levar a uma deformação aumentada do disco a longo prazo. Esta descoberta oferece pistas sobre a forma achatada do halo de matéria escura, enriquecendo assim os modelos teóricos de formação e evolução da Via Láctea.
Esses resultados, publicados em 27 de junho na Nature Astronomy, contribuem para refinar nossa compreensão da matéria escura e da história cósmica de nossa galáxia.