Se os padrões e as cores da pele dos lagartos fascinam, os mecanismos que os originam são em grande parte desconhecidos.
Uma equipe da Universidade de Genebra (UNIGE) investigou o gecko-leopardo, um lagarto popular, para entender como as listras na pele dos juvenis se transformam em manchas na fase adulta. Esses estudos revelam que essa transição é orquestrada por interações entre diferentes células pigmentares, oferecendo novas perspectivas sobre a biologia da pigmentação dos répteis. Esses resultados estão publicados na revista
Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Nos primeiros meses de vida, o gecko-leopardo exibe padrões listrados. Quando adulto, essas listras dão lugar a manchas negras, lembrando o pelo do leopardo.
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As cores e os padrões na superfície da pele dos répteis são de uma diversidade surpreendente, gerada pelas interações entre três tipos de células coloridas, os cromatóforos. Os melanóforos são responsáveis pelas cores preta e marrom; os xantóforos pela coloração vermelha/amarela e os iridóforos, preenchidos com cristais que refletem luz, produzem cores metalizadas. De acordo com a distribuição desses cromatóforos na pele, surgem diferentes padrões de coloração. Para a maioria das espécies, o padrão de coloração é definido durante o desenvolvimento embrionário e permanece estável ao longo da vida do animal.
Transição para a vida adulta
No entanto, existem exceções. É o caso do gecko-leopardo (
Eublepharis macularius), bem conhecido dos terrariófilos e originário da Índia ou Paquistão. Este lagarto, de aproximadamente vinte centímetros quando adulto, exibe nos primeiros meses de vida uma faixa branca na região da nuca e várias faixas transversais amarelas e pretas em suas costas. Quando atinge a fase adulta, sua pele, com fundo claro e uniforme, fica coberta com manchas negras, lembrando o pelo do leopardo. O grupo de Athanasia Tzika, pesquisadora do Departamento de Genética e Evolução da Faculdade de Ciências da UNIGE, interessou-se pelos fenômenos que permitem essa transição de listras para manchas no gecko-leopardo, a fim de melhor entender a formação de padrões de coloração nos répteis.
Os biólogos analisaram a distribuição das células coloridas na pele dos lagartos em diferentes etapas de suas vidas. "Durante nossas observações das amostras de pele, constatamos que, embora os três tipos de cromatóforos estejam presentes nos juvenis, os iridóforos desaparecem após alguns meses, coincidindo com a transição das listras para as manchas", explica Asier Ullate-Agote, ex-doutorando no Departamento de Genética e Evolução da Faculdade de Ciências da UNIGE, e primeiro autor do estudo.
O gecko-leopardo também apresenta a particularidade de poder regenerar sua cauda se esta for seccionada devido a uma agressão física de um predador. Independentemente da idade do lagarto, essa nova cauda sempre volta a crescer coberta com manchas, e nunca com listras. Os cientistas analisaram a pele dessas novas caudas e observaram que ela é desprovida de iridóforos. Essas observações correlacionam novamente a presença de manchas com a ausência de cromatóforos iridescentes.
Um gecko mutante para confirmar esses resultados
"Essas observações nos levaram a analisar a pele de um animal particular que às vezes aparece naturalmente em nossos criadouros: o gecko-leopardo ''Mack Super Snow''. Este animal, portador de uma mutação espontânea, nasce com pele preta sem listras, mas exibe pele manchada na fase adulta, como outros lagartos sem mutação. Constatamos que a pele dos juvenis apresenta apenas melanóforos, sem iridóforos ou xantóforos", descreve Athanasia Tzika.
As análises genéticas desses indivíduos permitiram identificar a mutação no gene PAX7. Este gene é normalmente expresso em iridóforos e xantóforos, sugerindo que ele desempenha um papel crucial na diferenciação desses dois cromatóforos, cuja presença não é necessária para a formação das manchas.
"Acreditamos, portanto, que são as interações entre melanóforos e iridóforos que originam o padrão em listras dos juvenis e que os melanóforos podem formar as manchas sem a ajuda de outros cromatóforos. Nosso estudo permite entender melhor os mecanismos de regulação que governam a pigmentação da pele nos geckos-leopardo e, mais geralmente, a formação de padrões de cores nos répteis", conclui Athanasia Tzika.