Astrônomos detectaram um sinal de rádio repetitivo, captado várias vezes, proveniente de uma galáxia antiga e inativa. Essa descoberta desafia as teorias atuais sobre a origem das rajadas rápidas de rádio, abrindo novas perspectivas sobre a evolução das estrelas de nêutrons.
As rajadas rápidas de rádio (FRB) são explosões de energia intensas, liberadas em alguns milissegundos. Embora sua origem permaneça frequentemente misteriosa, elas são geralmente associadas a estrelas de nêutrons jovens e magnetizadas. No entanto, a recente detecção de um FRB repetitivo em uma galáxia com mais de 11 bilhões de anos de idade abala essa ideia.
As rajadas rápidas de rádio: um enigma cósmico
Os FRB são fenômenos astrofísicos extremamente energéticos, capazes de liberar em um instante o equivalente à energia emitida pelo Sol em um dia. Até agora, eles eram principalmente atribuídos a magnetares, estrelas de nêutrons com campos magnéticos intensos. No entanto, seu mecanismo exato ainda é pouco compreendido.
A repetição de alguns FRB, como o observado em 2024, sugere que sua fonte não é destruída durante a emissão. Isso descarta a hipótese de eventos cataclísmicos únicos, como supernovas, e direciona as pesquisas para processos mais duradouros no tempo.
Uma galáxia antiga fonte de surpresas
O FRB 20240209A foi localizado na periferia de uma galáxia situada a dois bilhões de anos-luz. Essa galáxia, com mais de 11 bilhões de anos, não forma mais estrelas há muito tempo. No entanto, ela abriga uma fonte de rajadas de rádio repetitivas, o que contradiz a ideia de que apenas magnetares jovens podem produzir tais sinais.
Essa descoberta levanta questões sobre a longevidade e a atividade das estrelas de nêutrons. Os pesquisadores consideram que mecanismos incomuns, como a fusão de magnetares antigos, poderiam explicar essas emissões energéticas.
Hipóteses revisitadas
Uma das pistas exploradas é que o FRB provém de um aglomerado globular em órbita ao redor da galáxia. Esses aglomerados, ricos em estrelas antigas, poderiam abrigar magnetares mais jovens resultantes de fusões estelares. Outra possibilidade é que estrelas de nêutrons antigas, há muito consideradas inativas, ainda poderiam liberar rajadas de rádio.
Esses cenários, embora especulativos, mostram que os FRB poderiam ter origens mais variadas do que se imaginava. Eles incentivam os cientistas a revisar seus modelos e a explorar novos mecanismos astrofísicos.
Implicações para pesquisas futuras
Essa descoberta abre caminho para novos estudos visando compreender a diversidade das fontes de FRB. Observações em múltiplos comprimentos de onda e simulações numéricas serão essenciais para testar as hipóteses propostas. Além disso, telescópios mais potentes, como o James Webb, poderiam permitir a identificação precisa dos aglomerados globulares envolvidos.
Ao revelar que galáxias antigas ainda podem abrigar fenômenos energéticos, esse estudo amplia nossa compreensão da evolução estelar e galáctica. Ele nos lembra que o Universo ainda guarda muitos segredos esperando para serem descobertos.
Para saber mais: O que é um aglomerado globular?
Um aglomerado globular é um agrupamento denso de centenas de milhares a milhões de estrelas, mantidas juntas pela gravidade. Esses aglomerados estão entre as estruturas mais antigas do Universo, com idades que frequentemente ultrapassam 10 bilhões de anos. Eles orbitam ao redor de galáxias, principalmente em seus halos.
As estrelas de um aglomerado globular são majoritariamente antigas e pobres em elementos pesados. Diferentemente dos jovens aglomerados abertos, eles não formam mais estrelas. Sua alta concentração estelar favorece interações gravitacionais intensas, que podem levar à formação de objetos compactos, como estrelas de nêutrons ou magnetares.
Alguns aglomerados globulares contêm pulsares de milissegundos, estrelas de nêutrons em rápida rotação que acumulam matéria de uma estrela companheira. Essa particularidade os torna laboratórios naturais para o estudo da evolução estelar e dos efeitos da gravidade extrema.
O estudo dos aglomerados globulares também ajuda a entender a formação das galáxias. Sua população e distribuição fornecem pistas sobre as primeiras fases do Universo, revelando detalhes sobre a dinâmica das galáxias e seu passado cósmico.