Certas aranhas desenvolveram técnicas de caça surpreendentes, como mostra um estudo recente publicado na
Current Biology. Araneus ventricosus, uma aranha tecedora de teias comuns na Ásia Oriental, seria capaz de manipular os sinais luminosos dos vaga-lumes machos que captura para atrair outras presas para sua teia.
Os vaga-lumes usam sinais luminosos para se reproduzir, com os machos emitindo vários flashes para atrair as fêmeas, e as fêmeas emitindo um único flash para chamar os machos.
No entanto, os pesquisadores observaram que os machos capturados por Araneus ventricosus mudam seus sinais luminosos, tornando-os semelhantes aos das fêmeas. Isso engana outros machos, que se dirigem para a teia, acreditando estar se aproximando de uma parceira em potencial. Essa manipulação pela aranha é particularmente engenhosa, pois aumenta o número de presas capturadas.
A equipe de pesquisa, liderada por Xinhua Fu da Universidade Agrícola de Huazhong, estudou 161 teias de aranhas na província de Hubei, na China. Eles constataram que os vaga-lumes machos presos emitiam sinais luminosos diferentes dos machos livres, imitando os sinais das fêmeas. As aranhas parecem influenciar esse comportamento mordendo os vaga-lumes e injetando uma pequena quantidade de veneno. Esse processo poderia provocar uma reação nervosa no vaga-lume, levando-o a emitir esses falsos sinais.
Ainda assim, permanecem dúvidas sobre a maneira exata como as aranhas provocam essas mudanças nos sinais luminosos. Embora este estudo traga elementos de resposta, também destaca a necessidade de mais pesquisas para compreender plenamente o papel do veneno da aranha e seus efeitos no sistema nervoso dos vaga-lumes.
Dinesh Rao, pesquisador na Universidade Veracruzana, ao mesmo tempo em que elogia a relevância desta descoberta, pede cautela. Segundo ele, um estudo neurobiológico aprofundado é necessário para confirmar o papel direto das aranhas na modificação dos sinais luminosos. Kathryn M. Nagel, doutoranda na Universidade da Califórnia em Berkeley, compartilha desta opinião e destaca que outros fatores podem estar em jogo.
Os resultados deste estudo demonstram a complexidade das interações entre aranhas e suas presas, ilustrando o quanto a natureza pode ser inventiva. A aranha Araneus ventricosus, ao manipular os sinais luminosos dos vaga-lumes, mostra que mesmo organismos considerados "simples" podem desenvolver estratégias de caça sofisticadas.