A microbiota intestinal seria em parte responsável por comportamentos agressivos? Um novo estudo coloca em questão o impacto dos antibióticos administrados nos primeiros dias de vida.
Os pesquisadores israelenses descobriram que a microbiota alterada dos bebês pode influenciar a agressividade, um resultado que levanta questões sobre o uso precoce de medicamentos.
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A equipe científica da Universidade Bar-Ilan explorou o efeito do transplante fecal em camundongos. Esses transplantes provinham de bebês humanos que receberam ou não antibióticos. Os resultados mostraram uma diferença significativa no comportamento. Os roedores que receberam uma microbiota alterada apresentaram sinais aumentados de agressividade em comparação com os outros. Os cientistas também observaram mudanças nos níveis de serotonina e triptofano no cérebro.
Este estudo revela que as perturbações da microbiota intestinal podem influenciar diretamente os mecanismos neuroquímicos relacionados à agressão. O septo pelúcido, região do cérebro associada à regulação da agressão, parece particularmente afetado. Os antibióticos, embora eficazes no combate às infecções, podem alterar permanentemente a microbiota. Esse desequilíbrio pode influenciar processos vitais muito além da saúde intestinal.
Os pesquisadores esperam que esses resultados levem a novas abordagens terapêuticas. Compreender o papel do microbioma pode permitir o tratamento de certos transtornos de comportamento, particularmente a agressividade. Essas descobertas abrem caminho para futuras pesquisas sobre como preservar o equilíbrio da microbiota desde o nascimento. As estratégias terapêuticas poderiam assim prevenir alterações indesejáveis.
O que é a microbiota intestinal?
A microbiota intestinal refere-se ao conjunto de micro-organismos que vivem no nosso trato digestivo. Ela é composta por bilhões de bactérias, vírus, fungos e outros microrganismos. Estes micro-organismos convivem em simbiose com o corpo humano, participando de funções essenciais como a digestão, a proteção contra patógenos e a regulação do sistema imunológico.
A microbiota intestinal desempenha um papel essencial na saúde global. Ela contribui para a fermentação de fibras alimentares, sintetiza vitaminas, fortalece a barreira intestinal e comunica-se com o cérebro através do eixo intestino-cérebro. As perturbações desse equilíbrio, chamadas de disbiose, estão associadas a várias doenças, como distúrbios digestivos, doenças inflamatórias crônicas intestinais e até mesmo alguns distúrbios neuropsiquiátricos, como ansiedade ou depressão.
O eixo intestino-cérebro permite que a microbiota se comunique com o sistema nervoso central através de vias nervosas (notadamente o nervo vago), hormonais e imunológicas. As bactérias intestinais produzem neurotransmissores como a serotonina e influenciam a inflamação sistêmica, alterando assim comportamentos e emoções. Estudos sobre esse eixo mostram que perturbações da microbiota podem influenciar comportamentos como a agressividade, como observado em camundongos nesta pesquisa recente.