🌳 Estas florestas que agora emitem mais carbono do que absorvem

Publicado por Cédric,
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Nature
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Uma transformação está em curso no coração das florestas tropicais australianas. Estes ecossistemas milenares, outrora considerados bastiões naturais contra o excesso de carbono atmosférico, atravessam hoje uma metamorfose fundamental. O seu equilíbrio mudou sob o efeito cumulativo das perturbações climáticas, modificando irremediavelmente a sua relação com a atmosfera. Este fenómeno inédito oferece um vislumbre do que outras grandes florestas tropicais do planeta poderão em breve experienciar.

O estudo publicado na Nature revela a amplitude desta mudança. Graças a um acompanhamento meticuloso de quase 11.000 árvores durante um período excecional de cinco décadas, os investigadores documentaram a transição progressiva destas florestas de um estatuto de sumidouro para o de fonte de carbono. Esta inversão de papel ocorre em ecossistemas conhecidos pela sua densidade de biomassa entre as mais elevadas do mundo. A sua localização geográfica, numa zona climática ligeiramente mais quente e seca do que outras florestas tropicais, torna-as sentinelas particularmente expostas às mudanças em curso.



O mecanismo da mudança


O aumento da mortalidade das árvores constitui o principal fator que explica esta inversão. Os episódios repetidos de calor extremo e de seca prolongada provocam um stress hídrico fatal para muitos exemplares. A vegetação, submetida a condições climáticas cada vez mais distantes do seu ótimo fisiológico, vê as suas defesas enfraquecidas e a sua resiliência comprometida. Cada árvore que sucumbe liberta para a atmosfera o carbono que tinha pacientemente acumulado durante décadas de crescimento.

O impacto dos ciclones tropicais vem amplificar esta tendência preocupante. Estes eventos meteorológicos extremos, cuja intensidade poderá aumentar com o aquecimento global, causam danos imediatos e duradouros aos povoamentos florestais. Os investigadores quantificaram este efeito: nos seis anos seguintes à passagem de um ciclone, a mortalidade arbórea aumenta em média 19%. Esta vulnerabilidade acrescida às perturbações climáticas sazonais fragiliza ainda mais o equilíbrio carbonado destes ecossistemas.

Ao contrário das hipóteses avançadas por alguns modelos, os cientistas não observaram nenhuma aceleração significativa do crescimento das árvores que permitisse contrabalançar o aumento da mortalidade. Esta ausência de efeito fertilizante do CO2 põe em causa algumas projeções que contavam com uma capacidade persistente das florestas tropicais para absorver o carbono excedente.

Um alcance global


O valor destas observações ultrapassa largamente o quadro australiano. As florestas tropicais estudadas funcionam como um laboratório natural que permite antecipar o comportamento das grandes florestas mundiais. A sua sensibilidade particular às variações climáticas torna-as indicadores precoces das transformações futuras. Os mecanismos identificados neste estudo poderão manifestar-se em breve em ecossistemas florestais mais vastos, como a Amazónia ou a bacia do Congo.

As implicações para os modelos climáticos são consideráveis. A maioria das projeções atuais integra uma estimativa da capacidade de absorção de carbono das florestas tropicais. Se esta função viesse a diminuir mais rapidamente do que o previsto, o ritmo do aquecimento global poderia acelerar para além das previsões. A consideração deste fenómeno de saturação dos sumidouros de carbono terrestres torna-se, portanto, essencial para refinar as nossas projeções climáticas.

A preservação destes ecossistemas únicos representa um desafio científico e político maior. Os autores do estudo sublinham a importância dos dados ecológicos de longo prazo, cuja raridade contrasta com o seu valor inestimável. A manutenção destes programas de observação revela-se essencial para acompanhar a evolução destes ecossistemas e adaptar as estratégias de conservação face a mudanças tão rápidas quanto profundas.
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