Science Advances publicou recentemente um estudo que revela o papel crucial da Terra sob a Antártida na futura elevação do nível dos mares.
Conduzida por uma equipe liderada por Natalya Gomez, professora associada da Universidade McGill, esta pesquisa demonstra que as forças naturais da Terra poderiam limitar significativamente a contribuição da Antártida para a elevação do nível do mar, mas apenas se as emissões de carbono forem rapidamente reduzidas nas próximas décadas.
Os pesquisadores concentraram-se na interação entre a calota de gelo antártica e o solo abaixo, uma dinâmica pouco explorada até então. Quando o gelo derrete, seu peso diminui, resultando em uma elevação do solo, um processo chamado de "soerguimento pós-glacial". Esse levantamento pode retardar o deslocamento do gelo da terra para o oceano, reduzindo assim a taxa de perda de massa de gelo.
Conforme o estudo, se as emissões de carbono forem rapidamente reduzidas, o soerguimento do solo poderia diminuir em 40% a contribuição da Antártida para a elevação do nível do mar. No entanto, se as emissões continuarem a aumentar, o rápido derretimento do gelo superará o soerguimento do solo, provocando uma aceleração da elevação do nível do mar, especialmente ao longo das costas densamente povoadas.
Para alcançar essas conclusões, a equipe desenvolveu um modelo tridimensional do interior da Terra usando medições geofísicas coletadas pelo projeto ANET-POLENET nos Estados Unidos, que permitiu caracterizar as variações tridimensionais do manto terrestre sob a Antártida. Maryam Yousefi, coautora do estudo, destaca que este modelo é o primeiro a capturar essa relação com tal nível de detalhe.
O impacto das mudanças climáticas não é uniforme. O estudo revela que as ilhas e regiões costeiras, que menos contribuem para as emissões globais, serão ainda assim as mais afetadas pela elevação do nível do mar. Rob DeConto, coautor do estudo e glaciologista da Universidade de Massachusetts, declarou: "Este estudo representa um grande avanço em nossa capacidade de prever os impactos das mudanças climáticas na elevação dos mares e de informar políticas ambientais eficazes."
Dois mecanismos influenciam a elevação do nível do mar na Antártida.
O primeiro, o "retorno do nível do mar", ocorre sob um leve aquecimento climático. A elevação do leito rochoso e a diminuição da superfície do mar reduzem a perda de gelo, o que limita a elevação do nível do mar em grande escala.
O segundo mecanismo, a "expulsão de água", ocorre quando áreas oceânicas expostas na Antártida continuam a elevar-se, expulsando água e aumentando assim o nível do mar em grande escala. Sob forte aquecimento, a expulsão de água torna-se dominante, contribuindo mais para a elevação do nível do mar.
Finalmente, os pesquisadores ressaltam a importância de agir rapidamente para reduzir as emissões. De acordo com Terry Wilson, cientista do Byrd Polar and Climate Research Center da Universidade Estadual de Ohio, "documentar a rapidez das mudanças que o nosso mundo está enfrentando é essencial para continuar a melhorar nossa capacidade de fazer previsões mais precisas, a única maneira de gerenciar nosso futuro de maneira significativa."