Pesquisadores destacaram uma nova ameaça à saúde relacionada à COVID-19. Um síndrome autoimune recém-descoberto pode levar a complicações severas, especialmente para os pulmões.
Desde o início da pandemia de COVID-19, médicos e pesquisadores observaram diversas consequências a longo prazo da infecção pelo coronavírus. Entre esses efeitos, foram identificados distúrbios autoimunes, destacando as interações complexas entre o vírus e nosso sistema imunológico. Estudos recentes revelam o surgimento de um novo síndrome autoimune raro, porém grave.
Este síndrome, denominado MIP-C (autoimunidade MDA5 e pneumonite intersticial contemporânea com a COVID-19), é caracterizado por um ataque do sistema imunológico ao próprio corpo. O Dr. Dennis McGonagle da Universidade de Leeds e sua equipe identificaram 60 casos deste síndrome, detalhados em uma publicação recente na
eBioMedicine. A doença apresenta semelhanças com a dermatomiosite MDA5, mas afeta principalmente pessoas de origem europeia, ao contrário da forma tradicional que atinge sobretudo mulheres de origem asiática.
O MIP-C envolve a presença de anticorpos anti-MDA5, uma proteína normalmente envolvida na detecção de vírus de RNA como o COVID-19. Esses anticorpos induzem uma inflamação que pode danificar severamente os pulmões, tornando por vezes necessário um transplante pulmonar. Um estudo conduzido pelo Dr. Pradipta Ghosh da Universidade da Califórnia destacou uma atividade anormal do gene IFIH1 em pacientes com MIP-C, levando a uma produção excessiva da proteína inflamatória IL-15.
O surgimento súbito de vários casos em 2021 sugere que a exposição em massa à COVID-19 pode ter desempenhado um papel. Os pesquisadores acreditam que o contato com o RNA do coronavírus pode desencadear a produção de anticorpos anti-MDA5 em algumas pessoas, provocando assim a doença. No entanto, eles não estabeleceram uma ligação direta entre as vacinas COVID-19 e o aparecimento do MIP-C, destacando mais a importância de monitorar os efeitos a longo prazo do próprio vírus.
O reconhecimento deste síndrome tem implicações importantes para os médicos. De fato, o MIP-C pode exigir intervenções específicas e uma vigilância atenta dos pacientes com COVID-19 ou que tiveram contato com o vírus. A diminuição dos casos observada em 2022 pode indicar uma adaptação progressiva do sistema imunológico ou uma redução das exposições virais graças às medidas de saúde pública e às vacinações.
Os pesquisadores continuam a estudar este síndrome para compreender melhor porque algumas pessoas são mais vulneráveis a esta resposta imunológica. Sequências genéticas específicas parecem proteger alguns indivíduos da resposta inflamatória excessiva, abrindo perspectivas para tratamentos direcionados no futuro.