Genética: camundongos nascidos de dois pais conseguiram chegar à idade adulta 🐭
Publicado por Cédric, Autor do artigo: Cédric DEPOND Fonte:Cell Stem Cell Outras Línguas: FR, EN, DE, ES
A biologia da reprodução nos reserva muitas surpresas. Uma equipe de pesquisadores chineses recentemente alcançou um marco inédito. Eles conseguiram dar à luz camundongos originados de dois pais. Essa proeza, publicada na revista Cell Stem Cell, abre novas perspectivas. Ela também levanta questões éticas importantes.
Imagem de ilustração Pixabay
A impressão genética: um bloqueio biológico
A reprodução sexuada em mamíferos é um processo complexo. Envolve um equilíbrio entre o material genético dos dois pais. Um mecanismo essencial, chamado impressão genética, desempenha um papel crucial nesse processo. Certos genes, chamados "genes de impressão", são ativados ou desativados dependendo de serem herdados do pai ou da mãe. Esse fenômeno é indispensável para o bom desenvolvimento do embrião.
Os pesquisadores superaram esse obstáculo ao modificar especificamente alguns genes de impressão. Eles criaram embriões viáveis a partir de dois pais. Essa manipulação genética, embora complexa, permitiu contornar as incompatibilidades biológicas que até então impediam a reprodução entre indivíduos do mesmo sexo.
Uma manipulação genética ousada
A equipe chinesa direcionou 20 genes de impressão dentre os 150 que o camundongo possui. Eles usaram a técnica CRISPR para desativar ou alterar esses genes em células-tronco embrionárias. Essas células modificadas foram então fundidas com o esperma de um segundo macho para formar embriões. Esses embriões foram implantados em fêmeas portadoras.
Dos 164 embriões transferidos, sete filhotes nasceram. Eles atingiram a idade adulta, o que constitui uma primeira mundial. No entanto, esses camundongos apresentavam anomalias: esterilidade, expectativa de vida reduzida, tamanho anormal e órgãos às vezes malformados.
Esses resultados, embora passíveis de aprimoramento, mostram que é possível manipular a impressão genética para contornar os obstáculos à reprodução. Eles abrem caminho para novas pesquisas sobre os mecanismos fundamentais da reprodução e do desenvolvimento embrionário.
Perspectivas de aplicações biomédicas e questões éticas levantadas
Essa descoberta poderia ter aplicações na medicina regenerativa. Poderia permitir uma melhor compreensão de certas doenças relacionadas à impressão genética. A longo prazo, poderia levar a novas estratégias terapêuticas.
No entanto, ela levanta questões éticas importantes. A manipulação da impressão genética em humanos é viável? Quais seriam as consequências a longo prazo para os indivíduos assim gerados? Essas questões exigem um debate aprofundado.
Um passo importante em direção à reprodução unissexual?
Este estudo representa um passo importante na compreensão da reprodução. Talvez nos aproxime de uma forma de reprodução unissexual em mamíferos. No entanto, muitos obstáculos técnicos e éticos ainda precisam ser superados antes de considerar tais aplicações em humanos.
Para ir mais longe: Quais são as implicações da reprodução sexuada modificada na evolução?
A modificação da reprodução sexuada através da impressão genética poderia ter consequências inesperadas na evolução das espécies. Ao ajustar a herança dos genes de impressão, os pesquisadores poderiam manipular características hereditárias e até acelerar a adaptação dos organismos. Essas mudanças poderiam influenciar a seleção natural de maneira diferente do que conhecemos hoje.
Uma das questões é saber se essas tecnologias poderiam um dia permitir contornar as barreiras reprodutivas naturais entre espécies. Se a manipulação da impressão genética permitir que a reprodução entre espécies seja viável, isso poderia implicar uma redefinição das fronteiras evolutivas. Além disso, tal avanço traria muitos riscos ecológicos e biológicos, potencialmente perturbando ecossistemas inteiros.
Além disso, a possibilidade de manipular o DNA em um nível tão preciso levanta questões sobre o equilíbrio entre progresso científico e respeito à diversidade genética. Se um dia considerarmos modificar a impressão genética humana, seja para fins terapêuticos ou reprodutivos, isso poderia ter efeitos imprevistos nas populações, alterando a longo prazo os mecanismos naturais da evolução.
Os pesquisadores também precisarão considerar a possibilidade de que essas manipulações afetem a biodiversidade através de mudanças irreversíveis nas características genéticas das espécies. O desafio será encontrar um equilíbrio entre inovação e preservação da diversidade biológica essencial para o equilíbrio da natureza.