E se o ar que respiramos também influenciasse nossa saúde mental? É o que sugerem pesquisas recentes realizadas na Escócia. Esses resultados chamam a atenção e pedem uma reavaliação do combate à poluição.
Há várias décadas, especialistas alertam sobre os efeitos devastadores da poluição atmosférica na nossa saúde física, com milhões de mortes atribuídas todos os anos à exposição prolongada ao ar poluído. Mas, desta vez, os holofotes se voltam para impactos menos visíveis: aqueles no cérebro e no psiquismo.
Um estudo da Universidade de St Andrews, publicado na
BMJ Open, analisou internações hospitalares por distúrbios mentais. Os pesquisadores estudaram os dados de mais de 200.000 pessoas ao longo de um período de 15 anos, examinando os efeitos de poluentes como o dióxido de nitrogênio (NO2), dióxido de enxofre (SO2) e partículas finas (PM10 e PM2,5). Esses compostos, produzidos principalmente por transportes e indústrias, são conhecidos por penetrar profundamente no organismo.
As conclusões são claras: a exposição prolongada a esses poluentes está associada a um aumento significativo nas internações por distúrbios mentais, especialmente esquizofrenia e transtornos bipolares. Essa descoberta reforça estudos anteriores que já mencionavam uma relação entre poluição e alterações neurológicas.
Os pesquisadores apresentam duas principais hipóteses para explicar esses impactos. Primeiro, as partículas finas atravessam a barreira hematoencefálica, desencadeando inflamações no cérebro. Em segundo lugar, o estresse crônico relacionado à vida em áreas poluídas pode agravar distúrbios preexistentes.
Embora este estudo utilize uma metodologia robusta, os especialistas lembram que se trata de uma pesquisa observacional. Não é possível, neste estágio, estabelecer uma relação de causa direta. No entanto, esses dados se somam a uma literatura crescente que associa a deterioração da qualidade do ar ao aumento dos distúrbios mentais.
Além dos efeitos diretos, as populações urbanas também enfrentam um estresse ambiental constante. Viver em um ambiente onde a poluição é perceptível, seja pelo cheiro ou pela visibilidade, pode contribuir para ansiedades e distúrbios comportamentais. Isso levanta a questão das desigualdades geográficas e sociais em relação aos riscos para a saúde mental.
Para os cientistas, a urgência é reduzir os níveis de poluição. Zonas de emissão zero, incentivos para transportes limpos, maior uso de energias renováveis: as soluções existem, mas exigem uma forte vontade política. Os benefícios seriam múltiplos, reduzindo tanto as doenças respiratórias quanto os distúrbios mentais.
Essa constatação deve levar a uma reflexão sobre como as políticas públicas integram as questões de saúde global. Enquanto isso, os pesquisadores insistem na necessidade de aprofundar os estudos para esclarecer os mecanismos biológicos em jogo. Uma certeza permanece: respirar um ar mais puro poderia nos tornar todos um pouco mais tranquilos.