Alguns vírus parecem ser capazes de contornar as vacinas destinadas a erradicá-los. Esse fenômeno, já observado em vários patógenos, também pode se aplicar à gripe aviária. Pesquisadores sino-britânicos analisaram as evoluções genéticas do vírus H5 e propõem uma hipótese: a vacinação em massa de aves favoreceria sua adaptação.
Para testar essa ideia, os cientistas estudaram as sequências genéticas de um elemento-chave do vírus, a hemaglutinina. Essa glicoproteína permite que o patógeno se fixe às células hospedeiras. A análise foi feita com amostras coletadas entre 1996 e 2023, provenientes de diferentes regiões do mundo.
Os pesquisadores compararam as mutações observadas de acordo com as políticas de vacinação. Alguns países, como a China, aplicam campanhas de vacinação extensas, enquanto outros preferem limitar essas intervenções. Essas diferenças permitem estudar a influência potencial das vacinas na evolução do vírus.
Sem surpresa, os resultados confirmam que as aves não vacinadas contraem a doença com mais frequência, comprovando a eficácia da vacina. No entanto, outra tendência aparece: nas áreas onde a vacinação é generalizada, o vírus parece evoluir mais rapidamente do que nas regiões onde ela é menos praticada.
Os pesquisadores sugerem que essas mutações poderiam levar a uma resistência progressiva às vacinas. Outro risco surge: uma evolução acelerada do vírus pode, teoricamente, facilitar sua transmissão para outras espécies, incluindo os humanos. No entanto, esses resultados devem ser interpretados com cautela.
Evolução temporal do gene HA do vírus H5 de acordo com o hospedeiro infectado. Crédito: Science Advances (2025). DOI: 10.1126/sciadv.ado9140
O estudo estabelece apenas uma correlação entre a vacinação e a aceleração da evolução viral, sem provar uma relação de causa e efeito. Pesquisas complementares serão necessárias para confirmar ou refutar essa hipótese.
Esses trabalhos lembram que o uso de vacinas na saúde animal pode ter consequências inesperadas. Compreender melhor esses efeitos é crucial para adaptar as estratégias de combate à gripe aviária e prevenir possíveis transmissões entre espécies.
Como os vírus evoluem diante das vacinas?
Os vírus evoluem acumulando mutações em seu genoma. Essas modificações são aleatórias, mas algumas permitem que escapem das defesas imunológicas induzidas por uma vacina. Esse fenômeno é chamado de "escape viral".
Quando uma vacina é amplamente utilizada, ela exerce uma pressão seletiva sobre o vírus. As cepas mais sensíveis desaparecem, enquanto aquelas capazes de contornar a imunidade têm mais chances de se propagar. Isso pode levar ao surgimento de variantes resistentes.
Essa evolução é particularmente rápida em vírus de RNA, como a gripe ou o SARS-CoV-2 (Covid-19), pois seu material genético sofre muitos erros de cópia. Algumas mutações podem conferir uma vantagem, como uma melhor fixação às células ou uma resposta mais fraca ao sistema imunológico.
Para limitar esse fenômeno, as vacinas precisam ser atualizadas regularmente. A vigilância das mutações e a adaptação das estratégias de vacinação são essenciais para manter sua eficácia a longo prazo.