Os complexos de metais preciosos desempenham um papel essencial no desenvolvimento de tratamentos médicos, especialmente em oncologia. No entanto, seu modo de ação e comportamento no ambiente biológico ainda são pouco conhecidos.
Cientistas do Instituto Parisiense de Química Molecular realizaram um estudo completo da reatividade química e da atividade antitumoral de diversos compostos à base de ouro, abrindo caminho para novas estratégias terapêuticas mais eficazes e direcionadas no combate ao câncer.
Metais preciosos como o ouro possuem uma estrutura eletrônica única que lhes confere características químicas excepcionais, resultando em interações sutis com moléculas biológicas. Assim, encontramos complexos à base de ouro na composição de produtos farmacêuticos, como a auranofina, um medicamento usado no tratamento da artrite reumatoide e atualmente em ensaios clínicos como agente anticâncer.
Infelizmente, há poucas informações disponíveis sobre o comportamento desses compostos com atividade antitumoral no ambiente biológico. Eles se modificam? Sua estrutura eletrônica é alterada? Em qual parte da célula atuam? Para tentar responder a essas perguntas, cientistas do Instituto Parisiense de Química Molecular (CNRS/Universidade Sorbonne) realizaram um estudo completo da reatividade química e da atividade antitumoral de diversos compostos à base de ouro(III).
Os compostos analisados apresentam alta toxicidade para células tumorais. As análises, baseadas em técnicas espectroscópicas e microscópicas que utilizam radiação X produzida por um síncrotron, mostram que todos os complexos são estáveis tanto em ambientes extracelulares quanto no interior de células cancerígenas do pulmão. Eles não sofrem modificações estruturais, e os átomos de ouro permanecem ligados aos ligantes.
Por meio de microscopia de fluorescência de raios X, os cientistas conseguiram "mapear" os elementos químicos, incluindo o ouro, em células cancerígenas do pulmão hidratadas e preservadas por criogenia, com resolução da ordem de algumas dezenas de nanômetros. O ouro se acumula seletivamente nas mitocôndrias, as "usinas de energia" das células.
Ainda melhor, graças a uma análise detalhada por espectroscopia de absorção de raios X, as equipes obtiveram informações essenciais sobre a estrutura eletrônica e a geometria dos átomos de ouro nesse ambiente biológico.
Seus resultados indicam que a atividade antitumoral dos complexos de ouro provavelmente resulta de interações entre os compostos em sua totalidade e certas moléculas biológicas específicas, cuja atividade eles perturbam. Isso representa uma diferença fundamental entre esses candidatos a medicamentos e outros complexos antitumorais à base de ouro, que geralmente induzem a morte celular pela coordenação direta dos átomos de ouro com biomoléculas.
Esses resultados, publicados na revista
Angewandte Chemie, estabelecem pela primeira vez uma relação entre a estrutura química e a reatividade de um complexo de ouro, sua especiação na célula e sua citotoxicidade, abrindo novas perspectivas para avanços no combate ao câncer.
Editor: CCdM