🛰️ Qual é esta anomalia gravitacional que apareceu na África?

Publicado por Adrien,
Fonte: Geophysical Research Letters
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Há quase vinte anos, satélites captaram um sinal gravitacional incomum ao largo da costa africana, revelando uma perturbação profunda no campo gravitacional terrestre.

Os pesquisadores identificaram esta anomalia examinando as informações coletadas pelos satélites GRACE (Gravity Recovery and Climate Experiment), que operaram entre 2002 e 2017. O sinal, que se estendeu por aproximadamente 7.000 quilômetros, atingiu sua intensidade máxima em janeiro de 2007. Este período coincide com um "solavanco" geomagnético, uma modificação súbita do campo magnético terrestre, sugerindo uma ligação entre estes dois fenômenos.


O estudo, publicado na Geophysical Research Letters, propõe que transformações minerais no manto inferior tenham provocado uma redistribuição rápida da massa, afetando tanto a gravidade quanto o magnetismo.

Os satélites GRACE, uma colaboração entre a NASA e o Centro Alemão para a Aeronáutica e a Astronáutica, funcionavam em dupla para medir as ínfimas variações da gravidade terrestre. Voando um atrás do outro, eles detectavam os desvios de distância causados pelas diferenças de atração gravitacional, frequentemente ligadas aos movimentos de água ou de massa. Neste caso, a equipe filtrou os sinais superficiais para isolar os provenientes das profundezas, confirmando assim a origem interna da anomalia. Mioara Mandea, geofísica do Centro Nacional de Estudos Espaciais na França, inicialmente duvidou da validade do sinal antes de participar de sua interpretação.

A região em questão situa-se no manto inferior, uma zona rochosa principalmente composta por silicato de magnésio, localizada logo acima do núcleo externo líquido. Os cientistas estimam que a transformação da perovskita em pós-perovskita, uma mudança de estrutura cristalina sob alta pressão, tenha acarretado um deslocamento de massa significativo. Este processo, raramente observado, poderia explicar tanto a distorção gravitacional quanto o solavanco magnético, lançando luz sobre as interações entre as camadas terrestres.


Os satélites GRACE detectaram a anomalia gravitacional medindo as variações de distância entre eles, revelando mudanças de massa profundas.
Crédito: NASA/JPL

Mandea salienta que esta descoberta ilustra a necessidade de cruzar diversos dados e métodos para penetrar o interior da Terra. Combinando gravimetria, magnetismo e outras técnicas, os pesquisadores podem revelar mecanismos ocultos, como os que estão na origem desta anomalia. Esta abordagem sinergética promete novos avanços na compreensão da dinâmica profunda da Terra, um sistema de múltiplas facetas ainda largamente desconhecidas.

A transformação mineral no manto inferior


O manto inferior, situado entre 660 e 2.900 quilômetros de profundidade, é principalmente composto por silicato de magnésio, um mineral que pode mudar de estrutura sob o efeito da pressão e da temperatura. Uma destas transformações é a passagem da perovskita para a pós-perovskita, onde os átomos se rearranjam para formar um cristal mais denso.

Este fenômeno, que ocorre perto da fronteira com o núcleo externo, pode liberar ou absorver energia, acarretando movimentos de massa em grande escala. No caso da anomalia africana, esta mudança provavelmente redistribuiu a rocha, modificando o campo gravitacional e interagindo com o núcleo para afetar o magnetismo.

Tais transformações são raras e difíceis de observar diretamente, mas desempenham um papel chave na convecção do manto, que influencia a tectônica de placas e o vulcanismo. Os estudos em laboratório simulam estas condições extremas para melhor compreender seu impacto na dinâmica terrestre.

Os satélites GRACE e a medição da gravidade


Os satélites GRACE (Gravity Recovery and Climate Experiment) revolucionaram o estudo da gravidade terrestre usando um par de engenhos idênticos voando em formação. Medindo continuamente a distância entre eles, detectam as variações ínfimas causadas pelas mudanças de massa na Terra, como as correntes oceânicas ou os movimentos profundos.

Esta tecnologia permite mapear as anomalias gravitacionais com uma precisão inédita, revelando processos internos de outra forma invisíveis. Por exemplo, um deslocamento de rochas no manto pode alterar localmente a gravidade, o que o GRACE pôde identificar perto da África.

Os dados do GRACE são essenciais para compreender não apenas a estrutura terrestre, mas também o clima, ao acompanhar as massas de água. A missão terminou em 2017, mas seus sucessores, como o GRACE-Follow On, prosseguem este trabalho crucial para as ciências da Terra.
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