A chegada de Cristóvão Colombo às Américas em 1492 é frequentemente apresentada como uma grande descoberta, mas esta visão oculta uma realidade muito mais antiga. Muitas populações já haviam pisado nessas terras bem antes de sua expedição, questionando nossa compreensão tradicional da exploração do continente americano.
Os primeiros habitantes das Américas eram povos indígenas cujos ancestrais vieram da Sibéria e do Leste Asiático. Essas populações utilizaram a Ponte Terrestre de Bering, uma faixa de terra que outrora ligava a Ásia à América do Norte durante os períodos glaciais. As pesquisas arqueológicas mais recentes, publicadas na Nature, indicam que pegadas fósseis descobertas no Novo México datariam de aproximadamente 21.000 a 23.000 anos, o que corresponde ao máximo glacial, um período em que imensas geleiras cobriam grande parte do hemisfério norte.
Os Vikings também alcançaram o continente americano cerca de cinco séculos antes de Colombo, estabelecendo um posto avançado em L'Anse aux Meadows. De acordo com as sagas islandesas, redigidas nos séculos XIII e XIV, navegadores como Bjarni Herjólfsson ou Leif Erikson teriam sido os primeiros europeus a explorar essas costas. Esses relatos descrevem tentativas de assentamento rapidamente abandonadas devido a relações hostis com as populações indígenas, significativamente mais numerosas e organizadas.
O sítio de L'Anse aux Meadows, na Terra Nova, testemunha uma presença viking há aproximadamente 1.000 anos, bem antes de Cristóvão Colombo. Crédito: Russ Heinl via Shutterstock
Os polinésios também podem ter navegado até a América do Sul há cerca de 800 anos, como sugerem estudos genéticos recentes. A presença de batatas-doces, originárias da América, em sítios polinésios, e a análise de plantas consumidas em Rapa Nui há 1.000 anos, indicam contatos transoceânicos bem anteriores às expedições europeias. Essas descobertas abrem novas perspectivas sobre as capacidades marítimas das civilizações antigas.
Cristóvão Colombo, por sua vez, acreditava firmemente ter alcançado a Ásia, uma convicção que influenciava seus relatos e reivindicações. Ida Altman, professora emérita da Universidade da Flórida, explica que ele havia apostado sua reputação nessa hipótese, tornando difícil qualquer outra situação.
Pegadas fósseis de humanos antigos no Novo México, datando de 21.000 a 23.000 anos. Crédito: USGS, NPS, Bournemouth University ; Domínio público
As sagas islandesas e a história viking
As sagas islandesas são relatos épicos redigidos nos séculos XIII e XIV, descrevendo as façanhas dos Vikings, incluindo suas viagens para a América do Norte. Esses textos, como 'A Saga de Erik, o Vermelho', misturam história e lenda, oferecendo mesmo assim pistas valiosas sobre as primeiras explorações europeias.
Essas sagas contam como navegadores vikings, impelidos pelos ventos ou buscando novas terras, alcançaram costas desconhecidas, que nomearam de Vinland. Suas descrições de paisagens e encontros com populações locais correspondem às descobertas arqueológicas, como em L'Anse aux Meadows.
Os relatos destacam as dificuldades enfrentadas pelos Vikings, principalmente os conflitos com os indígenas, que limitaram suas tentativas de colonização. Essas interações mostram que as Américas não eram terras virgens, mas habitadas por populações organizadas.
O estudo dessas sagas permite reconstituir parte da história viking frequentemente negligenciada, revelando seu papel de precursores na exploração transatlântica bem antes da era das grandes descobertas oficiais.