Como as águas-vivas conquistaram o oceano

Publicado por Redbran,
Fonte: CNRS INSB
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As águas-vivas são bem conhecidas por sua capacidade de se multiplicar em massa e influenciar os ecossistemas costeiros. Mas o que se sabe menos é que elas têm ciclos de vida muito variados e às vezes surpreendentes. Em muitas espécies, o ciclo de vida alterna entre duas formas:
- Um pólipo, uma forma bentônica, que permanece fixa no fundo do mar.
- Uma água-viva, que nada livremente na água.

Esse é o caso, por exemplo, das águas-vivas Aurelia ou Rhizostoma, comuns nas costas europeias. Mas algumas espécies evoluíram de forma diferente: abandonaram completamente a fase bentônica para viver inteiramente na coluna de água. Esse modo de vida, chamado holoplanctônico, é encontrado em muitas espécies, como as águas-vivas do gênero Pelagia ou nos sifonóforos.


Imagem ilustrativa Pixabay

Os fatores ecológicos e evolutivos por trás dessa diversidade de ciclos de vida nunca haviam sido estudados. Essa lacuna acaba de ser preenchida em um artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Aproveitando os dados da expedição Tara Oceans


Para este estudo, os cientistas utilizaram dados da expedição Tara Oceans (2009-2013), que coletou amostras em todas as regiões do globo.

Combinando dados genéticos, medições ambientais e análises evolutivas, os pesquisadores descobriram que o modo de vida holoplanctônico surgiu pelo menos oito vezes em diferentes grupos de águas-vivas, de forma independente, e em alguns casos há mais de 100 milhões de anos. Essas evoluções assumiram várias formas:
- Algumas espécies perderam completamente a forma de pólipo, fixa no fundo do mar.
- Outras viram seu pólipo se transformar em uma forma flutuante, à deriva ou parasitando outros organismos planctônicos.

Cada vez, essa mudança foi associada a uma transição das costas para o mar aberto, confirmando uma hipótese proposta por Ernst Haeckel no século XIXe.

O sucesso evolutivo das espécies holoplanctônicas


O estudo mostrou que as espécies holoplanctônicas são mais abundantes e amplamente distribuídas do que aquelas que mantêm uma fase fixa. Elas são especialmente mais frequentes nos oceanos tropicais e subtropicais, em águas profundas e claras. Notavelmente, são frequentemente essas espécies totalmente planctônicas que dominam, inclusive perto das costas.

Para entender melhor seus papéis ecológicos, os cientistas examinaram o interactoma do plâncton usando bancos de dados que mapeiam interações potenciais entre organismos planctônicos. Eles observaram que as águas-vivas com fase fixa ocupam posições centrais nessa rede, o que significa que interagem de forma mais específica com outras espécies. Em contraste, as águas-vivas holoplanctônicas parecem mais flexíveis: adaptam-se mais facilmente e participam de uma maior variedade de interações.


(topo) Mapa do mundo mostrando a proporção da abundância relativa de águas-vivas holoplanctônicas (azul) e aquelas que alternam entre um estágio bentônico e pelágico (amarelo) em cada amostra de superfície da expedição Tara Oceans. As águas-vivas holoplanctônicas dominam amplamente essas amostras, exceto em algumas estações costeiras e no Ártico.
(base) Representação esquemática dos ciclos de vida das águas-vivas incluindo (amarelo) ou não (azul) uma fase bentônica, o pólipo.


Um estudo chave para prever as evoluções futuras


Em resumo, este trabalho mostra que o ciclo de vida das águas-vivas tem um impacto importante em sua presença no oceano e em seu papel no ecossistema. Ao abandonar sua fase bentônica, algumas espécies conquistaram áreas imensas, tornando-se atores dominantes no ecossistema marinho.

Este estudo destaca a necessidade de dar maior atenção às espécies holoplanctônicas para avaliar o impacto, a abundância e a evolução futura das águas-vivas no oceano. Em tempos de mudanças climáticas e pressão humana sobre os oceanos, é importante entender como as águas-vivas se adaptam para prever quais espécies prosperarão no futuro e quais podem enfrentar dificuldades.
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