O Universo ainda nos reserva muitos mistérios, e entre os mais intrigantes estão esses componentes invisÃveis que são a matéria escura e a energia escura. Há décadas, os astrónomos estimam que elas constituem a essência do cosmos, mas uma abordagem recente questiona essa visão estabelecida, propondo uma explicação bem diferente.
De acordo com trabalhos liderados por Rajendra Gupta da
Universidade de Ottawa , as forças fundamentais que regem o nosso Universo, como a gravidade, poderiam enfraquecer-se progressivamente com o tempo. Essa diminuição gradual criaria efeitos que se assemelham estranhamente aos atribuÃdos à matéria escura e à energia escura.
Por exemplo, a expansão acelerada do Universo, frequentemente atribuÃda à energia escura, poderia simplesmente resultar desse enfraquecimento das forças. Da mesma forma, os movimentos das estrelas nas galáxias, que normalmente exigem a presença de matéria escura para serem explicados, poderiam ser devidos a variações locais dessas constantes fÃsicas.
Uma ilustração mostrando galáxias curvando o tecido do espaço-tempo num universo em expansão. Crédito: NASA/JPL-Caltech
Rajendra Gupta especifica que as forças do Universo enfraquecem em média à medida que este se expande. Esse enfraquecimento dá a impressão de um impulso misterioso acelerando a expansão, identificado como energia escura. No entanto, à escala das galáxias e dos aglomerados galácticos, a variação dessas forças no espaço ligado gravitacionalmente produz uma gravidade adicional atribuÃda à matéria escura. Esses fenômenos poderiam, portanto, ser ilusões emergindo de uma evolução do que consideramos constantes que definem a força das interações fundamentais.
A originalidade dessa abordagem reside na sua capacidade de explicar dois fenômenos distintos com a mesma equação. Por um lado, à escala cosmológica, onde o Universo é considerado homogéneo em vastas distâncias, e por outro, à escala astrofÃsica, onde a distribuição de matéria é irregular. O modelo padrão requer equações diferentes para a matéria escura e a energia escura, enquanto esta nova teoria unifica as explicações sem recorrer a essas entidades.
Neste modelo, um parâmetro notado α aparece quando as constantes de acoplamento evoluem. Este α atua como um componente adicional nas equações gravitacionais, produzindo efeitos semelhantes aos atribuÃdos à matéria escura e à energia escura. À escala cosmológica, α é tratado como uma constante, mas localmente, numa galáxia, varia em função da distribuição de matéria padrão. Assim, onde a matéria detetável é abundante, o efeito gravitacional adicional é menor, e inversamente nas regiões pouco densas.
Esta perspectiva poderia resolver alguns enigmas maiores da astronomia, como a formação rápida de galáxias massivas no Universo jovem. Ao esticar a cronologia do Universo, quase duplicando a sua idade, o modelo permite explicar o aparecimento precoce de estruturas complexas sem invocar partÃculas exóticas. Isso questiona décadas de pesquisas sobre a matéria escura, sugerindo que os maiores segredos cósmicos poderiam ser ilusões criadas pela evolução das constantes naturais.
A evolução das constantes fundamentais
As constantes fundamentais, como a constante gravitacional G ou a velocidade da luz c, são valores considerados fixos na fÃsica clássica. Elas determinam a intensidade das forças e as propriedades do Universo. A ideia de que elas possam variar no tempo ou no espaço não é nova, mas ganha credibilidade com modelos cosmológicos avançados.
Se essas constantes mudam, isso afeta diretamente como a matéria interage. Por exemplo, um enfraquecimento da gravidade ao longo do tempo poderia explicar por que a expansão do Universo parece acelerar-se, sem necessitar de uma energia escura misteriosa. Variações locais também poderiam modificar a dinâmica das galáxias, tornando supérflua a hipótese da matéria escura.
Experiências em laboratório e observações astronómicas tentam medir essas variações. Até agora, nenhuma prova conclusiva emergiu, mas os limites de deteção estão a aperfeiçoar-se. Se mudanças forem confirmadas, isso revolucionaria a nossa compreensão das leis fÃsicas, mostrando que elas não são imutáveis, mas evoluem com o Universo.
Esta perspectiva abre vias de pesquisa, ligando a cosmologia à fÃsica fundamental. Ela sugere que o Universo poderia ser mais dinâmico do que o previsto, com constantes que se adaptam à sua história, oferecendo uma alternativa elegante à s entidades invisÃveis.