🔭 Usar a Lua para revelar a matĂ©ria escura

Publicado por Adrien,
Fonte: Nature Astronomy
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Cientistas acabam de simular os sinais extremamente fracos emitidos pelo hidrogĂȘnio primordial durante as Idades das Trevas cĂłsmicas, este perĂ­odo que precedeu o acendimento das primeiras estrelas. Estas ondas de rĂĄdio fĂłsseis, quase indetectĂĄveis da Terra, poderiam revelar a verdadeira natureza da matĂ©ria escura graças a futuras missĂ”es lunares.


Uma equipe internacional desenvolveu simulaçÔes computacionais para estudar como as ondas de rĂĄdio de 21 centĂ­metros emitidas pelo hidrogĂȘnio neutro durante os primeiros 100 milhĂ”es de anos do Universo poderiam trair as propriedades da matĂ©ria escura. Esta substĂąncia invisĂ­vel constitui cerca de 80% de toda a matĂ©ria cĂłsmica, mas ela nĂŁo interage com a luz, o que a torna extremamente difĂ­cil de observar diretamente. Os pesquisadores publicaram seus resultados na Nature Astronomy, demonstrando que a força mĂ©dia do sinal de rĂĄdio depende fortemente da massa das partĂ­culas de matĂ©ria escura.

Se estas partículas são muito leves, inferiores a 5% da massa de um elétron, a matéria escura é dita "quente" e impede a formação de pequenas estruturas cósmicas como galåxias anãs. Em contrapartida, partículas mais pesadas criam uma matéria escura "fria" que favorece o desenvolvimento de estruturas em pequena escala. Esta diferença se manifesta na maneira como o gås primordial se aglomerou durante as Idades das Trevas.


Comparação dos cenårios de matéria escura fria (esquerda) e quente (direita) mostrando a evolução das estruturas gasosas durante as Idades das Trevas cósmicas
Crédito: Hyunbae Park

As simulaçÔes revelam como o gĂĄs se resfriou progressivamente durante a expansĂŁo do Universo enquanto formava aglomerados via interação gravitacional com a matĂ©ria escura. Nestas regiĂ”es densas, o gĂĄs se comprimiu e aqueceu, criando variaçÔes de temperatura e densidade que deixaram sua marca no sinal de rĂĄdio do hidrogĂȘnio. A equipe modelou este sinal e descobriu que sua intensidade mĂ©dia difere significativamente entre os cenĂĄrios de matĂ©ria escura fria e quente.

A detecção deste sinal sutil requer um ambiente de rĂĄdio excepcionalmente calmo, impossĂ­vel de encontrar na Terra devido Ă s interferĂȘncias humanas e Ă  ionosfera que bloqueia as baixas frequĂȘncias. O lado oculto da Lua oferece ao contrĂĄrio um refĂșgio ideal, protegido das perturbaçÔes terrestres. VĂĄrias naçÔes desenvolvem atualmente missĂ”es lunares dedicadas Ă  astronomia de rĂĄdio, incluindo o projeto japonĂȘs Tsukuyomi, que planeja implantar antenas de rĂĄdio em nosso satĂ©lite natural nas prĂłximas dĂ©cadas.


Sinal de rĂĄdio mĂ©dio do hidrogĂȘnio previsto 100 milhĂ”es de anos apĂłs o Big Bang para diferentes cenĂĄrios de matĂ©ria escura
Crédito: Park et al.


As Idades das Trevas cĂłsmicas


As Idades das Trevas cĂłsmicas representam o perĂ­odo que seguiu imediatamente o Big Bang, antes da formação das primeiras estrelas e galĂĄxias. Durante esta era, o Universo estava preenchido por uma nĂ©voa de hidrogĂȘnio neutro que nĂŁo emitia nenhuma luz visĂ­vel, daĂ­ o nome de Idades das Trevas.

Este perĂ­odo durou aproximadamente 100 a 200 milhĂ”es de anos apĂłs o Big Bang, enquanto o Universo continuava sua expansĂŁo e resfriamento. O gĂĄs de hidrogĂȘnio primordial começava apenas a se organizar sob a influĂȘncia da gravidade, formando as primeiras estruturas que se tornariam mais tarde as galĂĄxias.

O hidrogĂȘnio neutro desta Ă©poca emitia porĂ©m uma radiação de rĂĄdio muito especĂ­fica a 21 centĂ­metros de comprimento de onda, correspondente Ă  transição entre dois nĂ­veis de energia do ĂĄtomo de hidrogĂȘnio. Este sinal de rĂĄdio fĂłssil constitui nossa Ășnica janela de observação direta sobre este perĂ­odo crucial da histĂłria cĂłsmica.

O estudo destes sinais permite aos astrÎnomos retroceder no tempo até os primeiros instantes da estruturação do Universo, bem antes do aparecimento das primeiras fontes luminosas.
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