🦷 O que revela a descoberta destas pastilhas elásticas com 6000 anos

Publicado por Cédric,
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Proceedings of the Royal Society B
Outras Línguas: FR, EN, DE, ES
Uma substância negra e maleável, mastigada e depois abandonada ou fixada em objetos nas margens de lagos alpinos há seis milénios, abre hoje uma janela inesperada sobre a organização social das primeiras comunidades da Europa. Estes pedaços de breu de bétula, apresentando marcas evidentes de mastigação humana, conservam na sua textura as impressões biológicas daqueles que os utilizaram como uma primitiva pastilha elástica.

A análise aprofundada destes artefactos, nomeadamente das impressões dentárias e da saliva aprisionada no material, revela agora informações valiosas sobre a distribuição de tarefas entre homens e mulheres no Neolítico. Uma equipa de investigação internacional examinou 30 amostras arqueológicas, das quais várias apresentavam vestígios de mordidas características, provenientes de nove locais diferentes na região alpina. A sua metodologia cruzada combina análise química e sequenciação de ADN antigo para reconstituir as práticas quotidianas destas populações.


a) Mapa localizando os nove sítios arqueológicos de onde provêm os artefactos analisados.
b) Tipos de artefactos estudados: pedaços de alcatrão de bétula mastigados, utilizados para encabamento ou para reparar recipientes de cerâmica ou madeira.
c) Períodos de ocupação aproximados (em anos a.C.) dos sítios estudados.
Fotos: Theis Z.T. Jensen.


A memória molecular do breu de bétula


A conservação excecional dos materiais biológicos no alcatrão de casca de bétula permite identificar as origens das pessoas que utilizaram esta substância. Os investigadores detetaram ADN humano em 19 amostras, com qualidade suficiente para determinar o sexo dos indivíduos em vários casos. Esta preservação notável explica-se pelas propriedades impermeáveis e antibacterianas naturais do material.

O estudo dos resíduos orgânicos aprisionados no material traz esclarecimentos sobre a alimentação e o ambiente destas comunidades. Os cientistas identificaram vestígios de cevada, trigo, ervilha e avelã, testemunhando as práticas agrícolas dessa época. A presença de ADN de papoila levanta questões sobre a sua utilização alimentar ou medicinal.

As marcas dentárias visíveis em doze das amostras confirmam a mastigação desta substância. As motivações para esta prática incluem possivelmente as suas virtudes medicinais, a manutenção da higiene oral ou a necessidade de amaciar o material antes da utilização. A descoberta de micróbios orais específicicos vem reforçar esta hipótese.

Uma distribuição de atividades por género


O exame dos artefactos mostrou uma distribuição diferenciada segundo o sexo na utilização do breu. Amostras encontradas em ferramentas de pedra, servindo para fixar cabos de madeira, apresentavam exclusivamente marcadores masculinos. Esta observação mostra uma especialização dos homens no domínio da fabricação e utilização de ferramentas de corte.

Pelo contrário, os vestígios de breu utilizados para reparar cerâmica apresentavam sistematicamente assinaturas genéticas femininas. Esta distribuição indica provavelmente uma atribuição das tarefas de reparação e manutenção dos recipientes às mulheres. A distinção aparece nitidamente na análise dos diferentes tipos de objetos.

A presença de ADN feminino e masculino nos pedaços mastigados indica que esta prática não era reservada a um único sexo. Contudo, a finalidade da utilização do material após mastigação parece ter seguido uma organização social estruturada. Esta descoberta oferece uma visão única da divisão do trabalho nestas sociedades antigas.

Para ir mais longe: O que é o breu de bétula?


O breu de bétula representa a primeira substância sintética criada pelo homem. A sua produção necessita de uma transformação por aquecimento da casca de bétula na ausência de oxigénio. Este processo técnico complexo aparece desde o Paleolítico Médio.

Este material possui propriedades adesivas e impermeáveis notáveis. As comunidades neolíticas utilizavam-no como cola para o encabamento de ferramentas, a impermeabilização de recipientes e a reparação de cerâmicas. A sua composição química confere-lhe uma grande estabilidade no tempo.

A substância contém naturalmente compostos com efeitos antisépticos. Algumas hipóteses sugerem a sua utilização para aliviar dores dentárias ou como desinfetante oral. A sua mastigação podia igualmente servir para amaciar o material antes da aplicação.
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