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Instituto de Sistemas Inteligentes e Robótica (ISIR - CNRS/Universidade Sorbonne), Alexandra de Lagarde e Louise P. Kirsch fazem uma pergunta surpreendente: e se pudéssemos ouvir uma carÃcia? Dessa reflexão nasceu o
Audio-touch, um projeto de pesquisa que explora novas maneiras de recriar o toque social à distância.
Converter gestos táteis afetivos em sons interpretáveis é o objetivo do projeto
Audio-touch, realizado no ISIR no âmbito do programa ANR MATCH. Essa abordagem baseia-se numa observação simples mas promissora: o toque e a audição dependem ambos da percepção de vibrações. Ela surge num contexto em que as interações fÃsicas estão a tornar-se mais raras – isolamento social, digitalização, interações virtuais –, mesmo sendo o toque essencial para o nosso desenvolvimento, bem-estar emocional e regulação do stress.
Membros do ISIR, Alexandra de Lagarde (doutoranda), Catherine Pelachaud (diretora de pesquisa do CNRS), Louise P. Kirsch (professora na Universidade Paris Cité) e Malika Auvray (diretora de pesquisa do CNRS), investigaram se gestos como uma carÃcia, uma palmada ou um esfregar na pele podem ser sonificados de modo a transmitir informações socioafetivas a um ouvinte.
Para isso, as pesquisadoras gravaram gestos pele a pele usando sensores vibrotáteis e depois transformaram esses dados em sons, os
estÃmulos audio-touch. Esses sons foram apresentados a participantes numa série de quatro experiências para avaliar sua capacidade de reconhecer a natureza e a intenção dos gestos.
Os resultados mostram que os sons derivados de gestos táteis são interpretados de forma coerente:
- Os gestos são bem categorizados (1ª experiência),
- Suas intenções emocionais são identificadas (2ª experiência),
- E a superfÃcie onde o gesto é executado (pele humana
versus objeto inanimado) influencia significativamente a percepção do gesto e das emoções (3ª e 4ª experiências).
Esses resultados, publicados na revista
Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), sugerem que a audição pode, até certo ponto, transmitir pistas normalmente associadas ao toque. Em outras palavras, é possÃvel "fazer ouvir" uma intenção tátil.
O projeto situa-se na interseção de várias áreas: cognição social, percepção sensorial, interação humano-agente, háptica e design sonoro. Enquanto o projeto ANR MATCH explora ilusões de toque em realidade virtual através de feedbacks multissensoriais, o
Audio-touch questiona especificamente o papel do canal auditivo na transmissão do vÃnculo social.
Ao demonstrar que gestos afetivos podem ser reconhecidos apenas pela sua tradução sonora, o
Audio-touch abre novas possibilidades para o design de interfaces sensÃveis ao afeto e, mais amplamente, para o desenvolvimento de formas alternativas de comunicação multissensorial em ambientes digitalizados.