🧬 Transformar células da pele em óvulos: esperança para casais inférteis ou homossexuais

Publicado por Cédric,
Autor do artigo: Cédric DEPOND
Fonte: Nature Communications
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Pesquisadores da Oregon Health & Science University deram um passo inesperado na luta contra a infertilidade. A partir de simples células da pele, eles conseguiram criar óvulos humanos capazes de serem fertilizados, abrindo um caminho inédito para a reprodução assistida. Esta descoberta, embora preliminar, suscita uma esperança real para milhões de pessoas que têm dificuldade para conceber.

A infertilidade atinge uma parte significativa da população mundial e frequentemente resulta da impossibilidade de produzir gametas funcionais. Nas mulheres, o envelhecimento ovariano ou certos tratamentos médicos podem reduzir drasticamente o número e a qualidade dos ovócitos, tornando a fertilização in vitro clássica ineficaz. Os cientistas exploraram portanto estratégias alternativas, nomeadamente a reprogramação de células somáticas para as transformar em gametas viáveis. A sua abordagem baseia-se num conceito chamado "mitomeiose", uma mistura inédita dos processos naturais de divisão celular.


Pesquisadores da OHSU desenvolveram uma nova técnica para tratar a infertilidade transformando células cutâneas em ovócitos, ou óvulos. A imagem mostra um ovócito com uma imagem clara do núcleo de uma célula cutânea antes da fertilização.
Crédito: Oregon Health & Science University


Um novo método para criar óvulos


Para criar óvulos funcionais, os pesquisadores removeram primeiro o núcleo de um ovócito humano e o substituíram pelo de uma célula da pele. As células somáticas possuem um duplo jogo de cromossomos, o que as torna incompatíveis com uma fertilização normal. O desafio era portanto reduzir este duplo jogo a um simples conjunto de cromossomos, semelhante ao que realiza naturalmente a meiose nos óvulos. Em resposta, a equipe desenvolveu a mitomeiose, um mecanismo que combina as divisões celulares conhecidas para obter um óvulo haploide capaz de se fundir com um espermatozoide.

Este processo permitiu a criação de 82 ovócitos funcionais. Quando foram fertilizados, a maioria não ultrapassou os primeiros estágios de desenvolvimento, frequentemente devido a anomalias cromossômicas. No entanto, uma pequena fração (9%) atingiu o estágio de blastocisto, mostrando que a montagem dos cromossomos e a fertilização podem funcionar em certas condições. Estes resultados confirmam que a mitomeiose é um conceito viável, mesmo que a sua reprodução estável e segura em humanos ainda necessite de muitos anos de pesquisas.

As implicações desta técnica são múltiplas. Ela poderia oferecer uma opção para mulheres cuja reserva ovariana é insuficiente, ou para casais do mesmo sexo que desejam ter um filho geneticamente ligado a ambos os parceiros. Não obstante, a complexidade biológica e os riscos éticos impõem uma prudência extrema antes de qualquer aplicação clínica. Os pesquisadores insistem no fato de que se trata por enquanto de um ensaio científico e não de um método aplicável em humanos.

Perspectivas e desafios científicos


A mitomeiose poderia transformar a pesquisa sobre a gametogênese in vitro oferecendo uma alternativa aos métodos longos e complexos baseados em células-tronco pluripotentes. Adaptando técnicas provenientes da clonagem, os cientistas conseguiram contornar alguns obstáculos maiores à criação de gametas a partir de células somáticas. Esta abordagem poderia também servir de modelo para melhor compreender a divisão cromossômica e as causas de anomalias genéticas em embriões humanos.

Além disso, os resultados mostram que continua essencial dominar o processo de redução cromossômica para obter óvulos estáveis e férteis. As anomalias observadas, frequentes mesmo nos ovócitos naturais, destacam a complexidade de reproduzir a meiose humana em laboratório. A pesquisa futura deverá portanto se concentrar na segurança desta etapa crítica a fim de aumentar a taxa de blastocistos viáveis.

Finalmente, o estudo abre questões éticas e regulamentares. As aplicações clínicas ainda estão longe e necessitam de um enquadramento rigoroso, nomeadamente para proteger os embriões e evitar manipulações genéticas prematuras. Apesar destas restrições, o trabalho constitui um marco científico importante e poderia, a longo prazo, oferecer novas opções aos pacientes confrontados com a infertilidade mais severa.

Para ir mais longe: como funciona a mitomeiose?


A mitomeiose combina dois processos biológicos fundamentais. Ela empresta elementos à mitose, a divisão clássica das células do corpo. Ela integra também características da meiose, reservada à formação dos gametas. Esta fusão cria uma terceira via de divisão celular.

O processo começa com a transferência de um núcleo de célula cutânea para um óvulo vazio. O citoplasma deste óvulo desencadeia então um rearranjo celular único. Os cromossomos do núcleo implantado se alinham como para uma divisão clássica, mas sem se duplicarem previamente. Esta etapa preparatória é essencial para a sequência das operações.

A divisão resulta na formação de um óvulo contendo apenas vinte e três cromossomos. Este resultado reproduz artificialmente a redução cromossômica natural dos gametas. O óvulo assim criado pode então ser fertilizado por um espermatozoide, permitindo a formação de um embrião com o patrimônio genético de ambos os pais.
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